Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

sexta-feira, agosto 13, 2010

Efeito dominó?!...

APÓS os epsódios do vazamento da prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2009, em Outubro último, e dos dados pessoais de 12 milhões de alunos que participaram das três últimas edições recentes (2007, 2008 e 2009) dessa avaliação, há dez dias, a comunidade acadêmica teme que a desmoralização do Enem contamine todo o sistema de avaliação escolar, principalmente o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade).

O ENADE, que será aplicado a alunos do Ensino Superior no próximo dia 21 de Novembro, também é planejada e aplicada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Professor Nísio Teixeira (Inep) - o mesmo que fracassou na organização do Enem de 2009, o primeiro em que as notas obtidas poderiam ser utilizadas pelos estudantes para ingressar numa universidade. Os especialistas em informática consideram o site do Enade na web tão precário quanto o site do Enem, por carecer de certificação digital, e receiam que os problemas do ano passado voltem a aparecer.

PARA os dirigentes universitários, as médias de cada Instituição podem ser facilmente alteradas por quem quiser, tal a facilidade de acesso aos documentos do Inep. "Caso ocorra com o Enade um vazamento como o do Enem, há a possibilidade de se macular indevidamente uma instituição", afirma Hermes Ferreira Figueiredo, presidente do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo.

FALTANDO menos de três meses para a realização do Enem deste ano, previsto para os próximos dias 06 e 07 de Novembro, o Inep ainda não assinou o contrato com a Fundação Cesgranrio e com o Centro de Seleção e Promoção de Eventos da Universidade de Brasília (Cespe-UnB), escolhidas - sem licitação - para preparar esse exame. Sem essa providência, elas não podem preparar as questões nem providenciar a contratação de fiscais e de examinadores. Por imposição legal, eles só podem começar a trabalhar depois que tudo estiver formalizado. "Não podemos gerar despesas sem o contrato", diz o diretor da Cespe-UnB, Ricardo Carmona. A estimativa é de que a assinatura do contrato vá ocorrer no dia 20 de Agosto, a 76 dias do exame.

ADEMAIS, a gráfica que imprimirá as provas do Enem de 2010 ainda está sendo selecionada por um processo de licitação pública. E ainda há quem receie que o sistema de informática do Ministério da Educação (MEC) repita o desempenho do ano passado, quando não foi capaz de atender à demanda de acessos feitos pelos estudantes, e quem ponha em dúvida a capacidade da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) em receber dezenas de milhares de inscrições (no valor de R$ 35 cada uma) e de promover a distribuição das provas em prazo exíguo.

EXISTEM mais de 12 mil locais de aplicação do exame, envolvendo a contratação de cerca de 300 mil pessoas, entre coordenadores, aplicadores e profissionais encarregados da correção. Para evitar novos vazamentos, o Inep começou a elaborar um plano de ação conjunta com as Forças Armadas do Brasil, o Departamento de Polícia Federal (DPF) e as Secretarias Municipais e de Estado da Educação.

SÓ para efeitos comparativos, a FUVEST, que costuma ter mais de 100 mil inscritos em cada edição, começou a preparar no último mês de Março o processo seletivo de 2011, marcado para o próximo mês de Novembro. A antecedência também é padrão na Vunesp, que organiza os exames vestibulares da Universidade Estadual Paulista (UNESP). Por exemplo, as mudanças introduzidas na seleção de 2009 foram definidas cerca de três anos antes. E pra citar os maiores concursos vestibulares do País

NO ano passado, descumprimento de cronograma, sistemas deficientes de informática, logística falha e execução feita às pressas foram os fatores apontados como responsáveis pelo fiasco da prova do Enem de 2009. A falta de planejamento obrigou estudantes a se submeter à prova em escolas situadas a uma distância de até 50 km de suas residências. Por causa da desorganização, a Fundação Cesgranrio, que sempre preparou a prova, desistiu de participar da licitação naquele ano, considerando que não haveria tempo hábil para prepará-la.

AÍ quando surgiram os primeiros problemas, as autoridades educacionais alegaram problemas técnicos. Porém, depois de tanta confusão e atraso, não há mais justificativas para sua inépcia administrativa.