O neopeleguismo de cooptação
AO SE dispor a serviço direto, sem disfarces, da pré- candidatura governista de Dilma Rousseff (PT-RS) à Presidência da República, a infração legal menos grave que as centrais sindicais cometeram foi a "antecipação" da campanha presidencial - até porque nem a Força Sindical nem a Central única dos Trabalhadores (CUT) foram as primeiras a fazê-lo. Mais grave foi a debochada afronta que o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho da Força Sindical, lançou à Justiça Eleitoral, ao afirmar que de nada adiantaria ser processado de novo - já teve quatro processos e duas condenações -, pois "continuaria a falar". E falou, tanto para dizer que não se pode deixar "esse sujeito" - referindo-se ao pré-candidato oposicionista José Serra (PSDB-SP) - se tornar presidente da República, porque ele "vai tirar os direitos do trabalhador", "vai mexer no Fundo de Garantia, nas férias, na licença-maternidade", como para defender a continuidade do governo do vosso presidente da República, Luiz Inácio da Silva (PT-SP), com a eleição de dona Dilma Rousseff.
DEIXEMOS de lado a falta de compostura e as agressões destemperadas do deputado-sindicalista Paulinho ao pré-candidato Zé Serra. Talvez essa tenha sido a forma que Paulino da Força Sindical encontrou para superar as vaias com que foi recebido na assembleia da Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS), composta por CUT, União Nacional dos Estudantes (UNE), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e outras entidades, e da qual a Força Sindical não é aliada. E, no entanto, a legislação proíbe, expressamente, a participação de sindicatos em campanhas eleitorais. E a reunião da CMS era apenas uma preparação para a Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat), realizada na última Terça-feira, 01, pelas cinco centrais sindicais (Força, CUT, CTB, CGTB e Nova Central), com o objetivo de, a pretexto de apresentar pautas reivindicatórias aos presidenciáveis, apoiar a pré- candidata oficialista à Presidência da República - em mais um desrespeito flagrante à legislação eleitoral.
ESSA participação aberta de entidades sindicais na campanha eleitoral é apenas uma consequência do total atrelamento do sindicalismo ao Estado, consumado no governo do ex-sindicalista Luiz Inácio da Silva (2003-10). O peleguismo nascido do Estado Novo getulista e que pareceu definitivamente extinto com a renovação do movimento sindical ocorrida no ABCD-Paulista, conduzida pelo líder metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva, voltou agora sob a forma aperfeiçoada do chamado neopeleguismo de cooptação. Explica bem esse fenômeno o cientista político Rubens Figueiredo que, em entrevista a nossa reportagem, classificou o Brasil como um raro exemplo de país capitalista onde o sindicalismo está a favor do Estado.
FIGUEIREDO recorda que, durante o processo de redemocratização, os sindicatos representaram uma força importante de resistência da sociedade e estavam afastados do Estado. Com a ascensão do Partido dos Trabalhadores (PT) e de Luiz Inácio da Silva ao poder, houve um processo de cooptação, principalmente, das Centrais Sindicais pelo Estado, que passou a destinar-lhes polpudas quantias de dinheiro. "Mesmo centrais que antes dificilmente se alinhavam, como a CUT e a Força Sindical, que lá atrás era chamada de pelega, hoje se alinham na defesa do governo. E, do ponto de vista de ocupação do Estado, há uma quantidade imensa de ex-sindicalistas e até de sindicalistas em atividade que fazem parte dos órgãos de direção do Estado", arremata o cientista político.
POIS estamos diante de uma "República sindicalista" - não a sonhada pelo presidente da República, deposto pelo Regime Ditatorial (1964-85), João Goulart, nem aquela inspirada por ideologias, mas uma com motivações mais vulgares, argentárias e de compadrio. "Os quadros que o PT foi buscar para administrar o Brasil vieram dos sindicatos. E esses sindicatos ocupam hoje postos-chave, por exemplo, nos fundos de pensão, que são as instituições econômicas com maior liquidez no Brasil. Eles movimentam volume expressivo de dinheiro. Então, houve a ascensão do sindicalismo aos núcleos de decisão do Estado", analisa Rubens Figueiredo.
A GRAVIDADE do atrelamento do sindicalismo ao Estado é que um regime desse tipo, cujo exemplo clássico é o corporativismo fascista, bem cedo se torna incompatível com o Estado Democrático de Direito. E isso começa pelo desprezo às leis e à Justiça; aquilo que o Paulinho da Força não se cansa de fazer.
DEIXEMOS de lado a falta de compostura e as agressões destemperadas do deputado-sindicalista Paulinho ao pré-candidato Zé Serra. Talvez essa tenha sido a forma que Paulino da Força Sindical encontrou para superar as vaias com que foi recebido na assembleia da Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS), composta por CUT, União Nacional dos Estudantes (UNE), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e outras entidades, e da qual a Força Sindical não é aliada. E, no entanto, a legislação proíbe, expressamente, a participação de sindicatos em campanhas eleitorais. E a reunião da CMS era apenas uma preparação para a Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat), realizada na última Terça-feira, 01, pelas cinco centrais sindicais (Força, CUT, CTB, CGTB e Nova Central), com o objetivo de, a pretexto de apresentar pautas reivindicatórias aos presidenciáveis, apoiar a pré- candidata oficialista à Presidência da República - em mais um desrespeito flagrante à legislação eleitoral.
ESSA participação aberta de entidades sindicais na campanha eleitoral é apenas uma consequência do total atrelamento do sindicalismo ao Estado, consumado no governo do ex-sindicalista Luiz Inácio da Silva (2003-10). O peleguismo nascido do Estado Novo getulista e que pareceu definitivamente extinto com a renovação do movimento sindical ocorrida no ABCD-Paulista, conduzida pelo líder metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva, voltou agora sob a forma aperfeiçoada do chamado neopeleguismo de cooptação. Explica bem esse fenômeno o cientista político Rubens Figueiredo que, em entrevista a nossa reportagem, classificou o Brasil como um raro exemplo de país capitalista onde o sindicalismo está a favor do Estado.
FIGUEIREDO recorda que, durante o processo de redemocratização, os sindicatos representaram uma força importante de resistência da sociedade e estavam afastados do Estado. Com a ascensão do Partido dos Trabalhadores (PT) e de Luiz Inácio da Silva ao poder, houve um processo de cooptação, principalmente, das Centrais Sindicais pelo Estado, que passou a destinar-lhes polpudas quantias de dinheiro. "Mesmo centrais que antes dificilmente se alinhavam, como a CUT e a Força Sindical, que lá atrás era chamada de pelega, hoje se alinham na defesa do governo. E, do ponto de vista de ocupação do Estado, há uma quantidade imensa de ex-sindicalistas e até de sindicalistas em atividade que fazem parte dos órgãos de direção do Estado", arremata o cientista político.
POIS estamos diante de uma "República sindicalista" - não a sonhada pelo presidente da República, deposto pelo Regime Ditatorial (1964-85), João Goulart, nem aquela inspirada por ideologias, mas uma com motivações mais vulgares, argentárias e de compadrio. "Os quadros que o PT foi buscar para administrar o Brasil vieram dos sindicatos. E esses sindicatos ocupam hoje postos-chave, por exemplo, nos fundos de pensão, que são as instituições econômicas com maior liquidez no Brasil. Eles movimentam volume expressivo de dinheiro. Então, houve a ascensão do sindicalismo aos núcleos de decisão do Estado", analisa Rubens Figueiredo.
A GRAVIDADE do atrelamento do sindicalismo ao Estado é que um regime desse tipo, cujo exemplo clássico é o corporativismo fascista, bem cedo se torna incompatível com o Estado Democrático de Direito. E isso começa pelo desprezo às leis e à Justiça; aquilo que o Paulinho da Força não se cansa de fazer.
<< Página inicial