Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

quinta-feira, abril 29, 2010

“Refundando” no vício da mentira

JÁ CHEGOU às editorias de política, nos grandes veículos da Imprensa, os primeiros sinais de que o site montado na web (www.dilmanaweb.com.br), para divulgar a candidatura oficial da ex-ministra-chefe do Gabinete Civil da Presidência da República, dona Dilma (Pinóquio) Rousseff (PT-RS) anunciado com espalhafato, está aí mesmo é para protagonizar, e não meramente para figurar na campanha presidencial. E, a exemplo de como bradava o Abelardo Barbosa, o Chacrinha, não veio propriamente para explicar, mas, sim, para confundir.

UM PRIMEIRO indício nesse sentido foi dado por ocasião do lançamento, no horário nobre da TV no Domingo, 18, da campanha institucional comemorativa do 45.º aniversário da TV GLOBO. Uma demonstração de que a função da equipe que administra esse endereço eletrônico é disparar contra adversários e inflar a petista foi a acusação de que a principal emissora de televisão na América Latina, e uma das mais importante do mundo, com sua enorme popularidade entre as massas fazia propaganda subliminar do pré-candidato oposicionista à Presidência da República, o ex-governador do Estado de São Paulo, José Serra (PSDB-SP). Isso porque o total de anos de existência que a TV GLOBO completa coincide com o número que o eleitor que quiser sufragá-lo digitará na urna eletrônica em Outubro próximo. O exagero parece semelhante ao Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) pedir que o treinador de futebol Zagallo seja proibido de manifestar sua predileção supersticiosa pelo número 13, pública e notoriamente coincidente com o da pré-candidata presidencial do Partido dos Trabalhadores (PT). Ou ainda que a torcida do 13 Futebol Clube, de Campina Grande, na Paraíba, seja emudecida à força em anos eleitorais - no Brasil, de dois em dois. Mas logo o aparente absurdo se dissolveria, já que, numa demonstração de que quem tem concessão precária de um negócio bom e poderoso como televisão, dependendo dos humores dos governantes, tem, sim, medo de ser feliz, e a diretoria da TV GLOBO mandou para o lixo aquela bela campanha institucional e deixou até de servir o bolo de aniversário.

ECOAVA ainda nos meios de comunicação a estupefação de alguns inconformados com a intrusão de kafkeana em nossa eleição presidencial quando a turma que comanda na web o site de dona Rousseff botou pra quebrar de novo. Ao mesmo tempo que o ex-áulico do lullismo, o deputado, Ciro Gomes (PSB-CE) atira com sua metralhadora giratória na favorita dele, notificando a escassez de seus méritos biográficos, o que não a legitimaria na disputa do cargo mais poderoso da República, os solertes companheiros da célula cibernética decidiram "refundar" a biografia de dona Rousseff. Petistas têm notória predileção por esse verbo, na ilusão de que ele, tendo mandado a lógica aristotélica às favas, signifique fundar uma vez mais, o que nunca seria possível. No entanto, como o termo significa apenas e tão-somente afundar mais, fica a permanente impressão enviesada pelo distinto público de que o ex-ministro de Estado da Justiça, e pré-candidato ao governo do Estado do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT-RS), pretendia aprofundar o partido quando se candidatou a presidente e o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT-BA), acusou o presidente da República de torná-la cada dia mais funda. E, nessa "refundação" (essa palavra, como lembra o escritor Alex Solomon, não está registrada no dicionário), enfiaram uma foto da, então bela, atriz Norma Bengell numa passeata de protesto contra a ditadura (nos anos 1960) entre flagrantes de Dilma (Pinóquio) Rousseff menina e Dilma (Pinóquio) Rousseff mulher.

DAÍ QUE a turma do site, pilhada em flagrante delito, "refundou" o passado sem brilho da candidata ao tentar fazê-la alçar voo. E terminou acusada de copiar seu titio Josef Stalin, que costumava eliminar ex-camaradas caídos em desgraça dos verbetes das enciclopédias, dos parágrafos dos livros de história e até das fotografias dos momentos históricos da gloriosa Revolução Soviética de 1917. Oh, que pena! O palpite, contudo, é tão infeliz quanto a tentativa de fazer passar a ainda então belíssima estrela do clássico do Cinema, “Os cafajestes”, pela ilustre prócer no viço da juventude. O "guia genial dos povos" eliminava fisicamente os inimigos e os excluía até das fotografias (não necessariamente nessa ordem). Já a travessa turma do sítio de dona Dilma tentou adaptar a História do Brasil às conveniências de sua campanha para aprimorar os méritos pretéritos da mesma. Só conseguiu, porém, chamar a atenção dos adversários e do eleitorado em geral para as fragilidades biográficas da pretendente ao trono.

E EM FAVOR daquela patota urge lembrar que nisso não é única nem singular. Antes, um solerte servidor da então ministra-chefe do Gabinete Civil da Presidência da República tentou plantar no currículo acadêmico dela um mestrado que não defendeu e um doutorado que nem sequer cursou na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O repórter Luiz Maklouf de Carvalho do Jornal O Estado de S. Paulo o pegou na mentira com declarações explícitas da direção da renomada instituição acadêmica. E a que foi mestra sem nunca ter sido reagiu ao flagrante com a desculpa de que não concluiu a dissertação porque estava trabalhando. Sim. E daí?

AGORA tenta-se ainda reescrever o currículo de dona Rousseff no documentário, em cartaz em São Paulo, “Utopia e barbárie”, de Sílvio Tendler, testemunha de que Luiz Inácio da Silva (PT-SP) teria feito uma "brincadeira" entre amigos ao narrar uma tentativa frustrada de assédio a um companheiro de cela no Dops, lembrada pelo sociólogo César Benjamin (PSOL-SP)) em artigo publicado no Jornal Folha de S. Paulo. No filme, de forma menos subliminar que o número dos anos da TV GLOBO, ela depõe sobre a própria atuação na luta armada da esquerda contra a ditadura militar de direita no Brasil. De blusa vermelha, a ex-guerrilheira não relembra um fato heroico, só recita teorias que o ministro de Estado Chefe da Secretaria de Comunicação Institucional da Presidência da República, jornalista Franklin Martins, defende com mais clareza. Martins e Roussef não dizem que lutaram pela democracia, mas garantem que resultou da luta de ambos a irreversível implantação de uma mentalidade libertária no Brasil. Terá sido? Sua qualificação como "economista" no filme parece irônica, porque a exibição do filme coincide com a celebração do 80.º aniversário da professora Maria da Conceição Tavares (PT-RJ), notória mestra dos economistas de esquerda no País.

TAIS FATOS refundam um passado que áulicos engajados tentam reconstruir, talvez convictos de que Josef Goebbels tinha de fato razão ao atribuir à mentira insistente foros de verdade absoluta.