Cinqüentenária
AINDA em obras apelidada pelo, então, ministro de Estado da Cultura da França, André Malraux, de "A Capital da Esperança", Brasília (DF) - que completou 50 anos na última Quarta-feira, 21, não merecia a crise política que levou à inédita prisão e ao afastamento de seu governador, eleito por voto direto, e à posse, há pouco, de um substituto, escolhido de forma indireta para exercer um mandato-tampão. Atropelado pela crise iniciada no fim de 2009, com a apresentação de provas indiscutíveis de corrupção, o governo distrital não teve condições de organizar a grande comemoração do cinqüentenário que certamente merecia essa Capital, nascida em um ambiente de desconfiança que ao longo do tempo conseguiu desfazer.
BRASÍLIA firmou-se como símbolo da modernização do Brasil e, sobretudo, como marco da nova forma de distribuição da população e do sistema produtivo pelo território nacional e, a despeito dos ônus que sua construção apressada impôs às finanças públicas do País, mereceu o nome com que a batizou Malraux.
A NOVA Capital nasceu da obsessão de um político disposto a tornar realidade um dispositivo da Constituição Federal promulgada em 1946 que determinava a transferência da capital da República para o Planalto Central do Brasil. Por causa dessa ideia, que transformou em seu principal programa de governo, o então presidente da República, Juscelino Kubitschek de Oliveira (1956 -1961), foi por alguns considerado um visionário, por outros, um aventureiro.
E A PRECARIEDADE de suas instalações à época da inauguração tornava a cidade "desumana", como descreveram nossos historiadores. Amargurava os congressistas da época - 456 senadores e deputados que passariam a desempenhar suas funções de representantes do povo longe dos confortos que lhes oferecera até então a Cidade do Rio de Janeiro -, a dolorosa realidade da nova Capital, na qual faltavam telefones, as condições de habitação eram precárias e o pó, infernal.
CONTUDO a inauguração de Brasília foi mais do que um espetáculo que emocionou a população de várias partes do País. Sua repercussão foi internacional. "Nunca o Brasil foi tão falado no mundo como agora", observaram todas as reportagens sobre o tema publicadas à época, dias depois da inauguração. "A Europa, que persistia em nos ignorar, rende-se à evidência dos fatos e reconhece como realidade concreta o florescimento no Brasil de um tipo de cultura autônoma que se projeta como afirmação de élan vital e de maturidade", dizia um editorial do Jornal O GLOBO da época. Em seguida, citou o editorial do jornal londrino News Chronicle: "Brasília é tida em todo o mundo como a obra-prima arquitetônica do século".
É FATO que a Capital Federal continua a ser lembrada em todo o mundo por seu projeto urbanístico - mesmo que o projeto ainda hoje continue a provocar muita polêmica -, e por alguns de seus principais edifícios.
ESTE É, porém, apenas um dos aspectos essenciais de sua história. Outro foi o de ter constituído o marco inicial da marcha para o Oeste, ou seja, a conquista de uma região até então praticamente ignorada pela população e pelos empreendedores.
COMO observam alguns historiadores econômicos, que a evolução natural da agricultura, com a descoberta de variedades mais apropriadas para as condições locais, certamente, acabaria levando ao desenvolvimento agrícola da Região Centro-Oeste. Mas não parece haver dúvidas de que a instalação da Capital do País no Planalto Central acelerou a ocupação do Centro-Oeste e estimulou as pesquisas científicas que abriram o caminho para a agricultura e para a pecuária na região.
NO ENTANTO foi demasiadamente longo, o impacto negativo que a frenética construção da nova Capital teve sobre as finanças públicas. A calamitosa situação das finanças nacionais, sem precedentes na história do País, constituía, por si só, razão de sobra para nos dissuadir da insensatez de recorrer a emissões sem conta com o único objetivo de edificar, no curto espaço de cinco anos, uma cidade que, pelas suas proporções, deixaria a perder de vista Washington (DC), delineada e construída há mais de um século e meio, Camberra, na Austrália, e Ancara, na Turquia asiática.
ASSIM, antecipava-se o flagelo da inflação descontrolada, provocada pela construção de Brasília, da qual o País só conseguiria se livrar quatro décadas depois, em 1994, graças ao Plano Real.
BRASÍLIA firmou-se como símbolo da modernização do Brasil e, sobretudo, como marco da nova forma de distribuição da população e do sistema produtivo pelo território nacional e, a despeito dos ônus que sua construção apressada impôs às finanças públicas do País, mereceu o nome com que a batizou Malraux.
A NOVA Capital nasceu da obsessão de um político disposto a tornar realidade um dispositivo da Constituição Federal promulgada em 1946 que determinava a transferência da capital da República para o Planalto Central do Brasil. Por causa dessa ideia, que transformou em seu principal programa de governo, o então presidente da República, Juscelino Kubitschek de Oliveira (1956 -1961), foi por alguns considerado um visionário, por outros, um aventureiro.
E A PRECARIEDADE de suas instalações à época da inauguração tornava a cidade "desumana", como descreveram nossos historiadores. Amargurava os congressistas da época - 456 senadores e deputados que passariam a desempenhar suas funções de representantes do povo longe dos confortos que lhes oferecera até então a Cidade do Rio de Janeiro -, a dolorosa realidade da nova Capital, na qual faltavam telefones, as condições de habitação eram precárias e o pó, infernal.
CONTUDO a inauguração de Brasília foi mais do que um espetáculo que emocionou a população de várias partes do País. Sua repercussão foi internacional. "Nunca o Brasil foi tão falado no mundo como agora", observaram todas as reportagens sobre o tema publicadas à época, dias depois da inauguração. "A Europa, que persistia em nos ignorar, rende-se à evidência dos fatos e reconhece como realidade concreta o florescimento no Brasil de um tipo de cultura autônoma que se projeta como afirmação de élan vital e de maturidade", dizia um editorial do Jornal O GLOBO da época. Em seguida, citou o editorial do jornal londrino News Chronicle: "Brasília é tida em todo o mundo como a obra-prima arquitetônica do século".
É FATO que a Capital Federal continua a ser lembrada em todo o mundo por seu projeto urbanístico - mesmo que o projeto ainda hoje continue a provocar muita polêmica -, e por alguns de seus principais edifícios.
ESTE É, porém, apenas um dos aspectos essenciais de sua história. Outro foi o de ter constituído o marco inicial da marcha para o Oeste, ou seja, a conquista de uma região até então praticamente ignorada pela população e pelos empreendedores.
COMO observam alguns historiadores econômicos, que a evolução natural da agricultura, com a descoberta de variedades mais apropriadas para as condições locais, certamente, acabaria levando ao desenvolvimento agrícola da Região Centro-Oeste. Mas não parece haver dúvidas de que a instalação da Capital do País no Planalto Central acelerou a ocupação do Centro-Oeste e estimulou as pesquisas científicas que abriram o caminho para a agricultura e para a pecuária na região.
NO ENTANTO foi demasiadamente longo, o impacto negativo que a frenética construção da nova Capital teve sobre as finanças públicas. A calamitosa situação das finanças nacionais, sem precedentes na história do País, constituía, por si só, razão de sobra para nos dissuadir da insensatez de recorrer a emissões sem conta com o único objetivo de edificar, no curto espaço de cinco anos, uma cidade que, pelas suas proporções, deixaria a perder de vista Washington (DC), delineada e construída há mais de um século e meio, Camberra, na Austrália, e Ancara, na Turquia asiática.
ASSIM, antecipava-se o flagelo da inflação descontrolada, provocada pela construção de Brasília, da qual o País só conseguiria se livrar quatro décadas depois, em 1994, graças ao Plano Real.
<< Página inicial