Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

quarta-feira, outubro 21, 2009

Escolaridade rarefeita

A SÍNTISE de Indicadores Sociais (SIS) divulgada semana passada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revela avanços importantes no sistema educacional brasileiro, ainda que em ritmo considerado lento pelos especialistas. Propiciado pela expansão das universidades privadas e pelo Programa Universidade para Todos (ProUni), um dos avanços mais importantes é o aumento de 6,9% para 13,9% no número de alunos do Ensino Superior, entre 1998 e 2008. Esse também compreende o período em que o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi implantado no Brasil.

O ESTUDO do IBGE não leva em conta a faixa etária dos estudantes do Ensino Superior. Alguns especialistas afirmam que muitos alunos continuam se formando bem mais velhos do que os estudantes dos países desenvolvidos. Mesmo assim, reconhecem, esse fato é positivo, na medida em que revela uma crescente qualificação das novas gerações. "Para o mercado é importante que a pessoa se forme, independentemente da idade. Como a educação no Brasil ainda é deficiente, as pessoas terminam o Ensino Médio mais tarde, vão trabalhar antes e entram para a Universidade depois", me disse o economista Cláudio Moura Castro (colunista da Revista Veja - Editora Abril), que já dirigiu a Capes/Mec e foi consultor para assuntos de educação de importantes organismos multilaterais.

UM OUTRO importante avanço constatado pelo estudo do IBGE foi a expansão do Ensino Médio. Entre 1998 e 2008, a proporção de jovens com mais de 15 anos matriculados nas três séries desse ciclo pulou de 76,5% para 84,1%. E, deste total, 50,6% dos alunos estão na série adequada à sua faixa etária, o que também é um progresso. Em 1998, o índice era de 30,4%. Se o ritmo for mantido, diz o estudo do IBGE, o Brasil chegará a 2018 com 70,8% dos estudantes com idade adequada no Ensino Médio (nos países desenvolvidos, a taxa é superior a 90%).

O MESMO estudo também mostra que o porcentual de jovens de 18 a 24 anos com pelo menos 11 anos de estudo passou de 18,1%, em 1998, para 36,8%, em 2008. No ano passado, 45,3% dos jovens com mais de 15 anos tinham menos de oito anos de escolaridade e 21% tinham menos de quatro anos de estudo. Como era de esperar, os indicadores do IBGE mostraram uma acentuada diferença no número de anos de estudo entre os brasileiros que moram na cidade e no campo. Em 2008, 4,6% dos habitantes de áreas rurais tinham estudado 15 anos ou mais, ante 7,9% dos moradores de áreas urbanas.

O LEVANTAMENTO do IBGE mostra ainda a melhoria da média de anos de estudo dos mais pobres por quintos de renda. Por essa metodologia, a sociedade foi dividida em cinco grupos de 20%, de acordo com a renda familiar per capita, dos mais pobres para os mais ricos. Há dez anos, o grupo mais pobre tinha, em média, 2,6 anos de estudo. Em 2008, esse número chegou a 4,3. No segundo quinto mais pobre, a evolução foi de 3,4 para 5,4 anos de escolaridade. Outro avanço importante é o número de crianças entre 7 e 14 anos na escola. A taxa, que era de 94,7%, há dez anos, foi de quase 98%, em 2008.

TODA essa avalanche de números mostra que, depois de vencida a etapa da universalização do Ensino Fundamental no Governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), a partir do ano 2000, o País agora tem pela frente o desafio da universalização do Ensino Médio. Mas, como advertem os especialistas, essa é uma meta que só será atingida ao longo prazo. Os indicadores do IBGE revelaram "um salto grande, mas não dá para ir mais rápido", me disse Moura Castro. Isto porque não adianta expandir quantitativamente o número de matrículas do Ensino Médio sem, ao mesmo tempo, adotar programas para melhorar a qualidade da educação. "O Ensino Médio é muito ruim, chato e abstrato. Se a escola for boa o curso é voltado para o vestibular. E, se for ruim, o currículo do Ministério da Educação (MEC) não diz o que fazer", afirmou Moura Castro. Como esse nível de ensino hoje não é nem profissionalizante nem formativo, ele fornece o que alguns especialistas chamam de "escolaridade rarefeita", o que acaba levando muitos estudantes a desistir do curso.

O ACESSO à escola melhorou nos últimos dez anos, em todos os níveis. Todavia, como mostram os mecanismos de avaliação do MEC, o ensino ministrado para a maioria dos estudantes continua longe de apresentar resultados minimamente aceitáveis.