O valor da aposta!
RIO DE JANEIRO - O BAIXO valor do dólar , um problema para a maior parte do mundo, põe à prova a capacidade de cooperação das principais potências do Grupo dos Paises Ricos e Emergentes (o recém turbinado G-20). Há três semanas, em Pittsburgh, chefes de governo das maiores economias avançadas e emergentes prometeram coordenar suas políticas, para promover o retorno ao crescimento, depois da maior crise financeira desde os anos 1930. Até esse momento, a convergência das políticas havia ocorrido sem maiores dificuldades. Todos os governos haviam adotado medidas fiscais para estimular o consumo e os bancos centrais haviam cortado juros e emitido dinheiro para ampliar o crédito. Além disso, tinha havido grandes operações de salvamento de bancos e de indústrias em várias economias. Mas o pior havia passado e uma nova pauta foi posta sobre a mesa na reunião de cúpula em Setembro.
TRECHO da nova agenda parecia fácil: manter os estímulos até surgirem sinais de recuperação firme. Mas a coordenação, para ser completa, deveria envolver decisões sobre comércio e câmbio. Aí as palavras se revelaram muito mais fortes do que as ações, porque os interesses imediatos, desta vez, são divergentes. Para os americanos, é prioritário exportar mais e importar menos.
AUTORIDADES ocidentais estavam acostumadas a pressionar o governo chinês para deixar valorizar-se o yuan. Quando foi emitido o comunicado oficial do G-20, em 25 de Setembro último, a primeira interpretação pareceu fácil: o apelo à coordenação era mais um recado dirigido ao Governo da China. Mas o problema cambial era de fato mais complicado e envolvia mais que a subvalorização da moeda chinesa.
O DÓLAR atingiu nos últimos dias o seu nível mais baixo, em 14 meses, em relação às moedas dos seis principais parceiros comerciais dos Estados Unidos da América (EUA). Desde o começo de Março deste ano, a moeda norte-americana caiu 15% em relação ao euro e 11% em relação ao iene e não há sinais de estabilização a curto prazo.
DESDE a reunião de cúpula do G-20, autoridades financeiras das economias mais avançadas intensificaram as pressões sobre o governo norte-americano para defender o dólar. O secretário do Tesouro dos EUA, Timothy Geithner, prometeu mais de uma vez atender aos interesses da comunidade internacional. A última resposta pública foi dada em Istambul, depois de uma reunião de ministros de Finanças do grupo das sete maiores potências capitalistas (G-7), durante a assembleia anual do FMI. "É importante para os EUA", disse Geithner, "continuarmos a ter um dólar forte”.
TAIS declarações foram feitas seriamente e com efeitos práticos no governo do ex-presidente norte-americano Ronald Reagan, no começo dos anos 1980. Foram repetidas, com menores efeitos, nas administrações seguintes. Agora, as frases de Geithner são recebidas com claras manifestações de ceticismo por analistas privados. Autoridades estrangeiras não podem simplesmente pôr em dúvida, em público, as palavras do secretário norte-americano. Mas não deixam de insistir na urgência de uma solução. O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, voltou a alertar, semana passada, para os perigos criados pela instabilidade cambial, mas fez uma referência diplomática ao espírito de cooperação entre as potências dos dois lados do Atlântico Norte.
PORÉM, os ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais não podem fazer muito mais do que reclamar e pressionar. A curto prazo, não há uma alternativa séria para o dólar como ativo de reserva internacional - embora a participação do dólar no total de reservas mantidas em todo o mundo tenha diminuído de 65% para 62,8% no primeiro trimestre.
ENQUANTO isso, os produtores norte-americanos colhem os benefícios da moeda depreciada. Entre Abril e Julho o valor mensal das exportações aumentou 5,8%, de US$ 120,6 bilhões para US$ 127,6 bilhões. Por que o governo norte-americano se esforçaria para defender sua moeda? Como não há ameaça iminente de inflação, a autoridade monetária dos EUA, o Federal Reserve (Fed), mantém os juros básicos entre zero e 0,25%. É um bom estímulo para os investidores buscarem aplicações mais lucrativas em outros mercados, valorizando outras moedas, incluído o real, além do ouro e do petróleo. A redução do déficit fiscal norte-americano só ocorrerá ao longo de vários anos e essa perspectiva também contribui para depreciar o dólar. Por enquanto, o problema é só dos outros.
NO BRASIL, a valorização do real ante o dólar não pode ser atribuída à falta de intervenção do Banco Central do Brasil (BC). Desde que voltou a intervir no mercado cambial em Maio, até o final de Setembro último o BC comprou US$ 14,3 bilhões, enquanto o saldo das operações de câmbio no período ficou em US$ 9,8 bilhões. Durante o período, as operações tiveram fortes variações, mas se percebe que, à medida que aumentava o saldo cambial, a intervenção do BC se intensificava.
EM SETEMBRO, o saldo cambial positivo de US$ 1,369 bilhão foi inferior ao do mês anterior de US$ 2,957 bilhões. O saldo do fluxo financeiro foi de US$ 4,590 bilhões, com entradas de US$ 33,186 bilhões. Ao contrário, o saldo comercial ficou deficitário em US$ 3,225 bilhões, com exportações de US$ 9,619 bilhões, muito abaixo das importações que aparecem nos dados da balança comercial (US$ 20 bilhões). Essa diferença se deve em grande parte ao fato de os exportadores manterem no exterior parte das suas receitas, como permite a legislação. Mais cedo ou mais tarde essa receita aparecerá no fluxo cambial.
É RELEVANTE registrar que, em Setembro, as compras do BC somaram US$ 3,481 bilhões,valor 155% superior ao fluxo cambial, que mostra a preocupação das autoridades monetárias com a valorização excessiva do real, mas que também levou em conta o aumento de US$ 2,1 bilhões da posição comprada dos bancos, que parecem acreditar em desvalorização do real.
O BC, todavia, está se preparando para um aumento importante do fluxo cambial em razão da Oferta Pública Inicial (IPO) do Banco Santander. Admite-se que, no último dia 06 de Outubro, as entradas vinculadas a essa operação teriam ultrapassado US$ 4 bilhões. A evolução da taxa cambial nos últimos dias reflete essas vultosas entradas.
AQUI a questão é saber se a intervenção do BC é eficiente para conter a alta do real e se não tem um custo elevado. Sabe-se que essas compras do BC se destinam à constituição de reservas, cuja remuneração é muito inferior ao seu custo e que se desvalorizam quando cai o valor do dólar.
TAIS compras representam uma injeção de liquidez na economia que o BC, como guardião da moeda e autoridade monetária do País, tem de neutralizar através de operações de open market que muitas vezes tomam a forma de vendas de títulos com promessas de recompra o que finalmente aumenta a dívida mobiliária que tem custo elevado. No entanto, é difícil, na conjuntura atual, negar a necessidade da intervenção do BC.
TRECHO da nova agenda parecia fácil: manter os estímulos até surgirem sinais de recuperação firme. Mas a coordenação, para ser completa, deveria envolver decisões sobre comércio e câmbio. Aí as palavras se revelaram muito mais fortes do que as ações, porque os interesses imediatos, desta vez, são divergentes. Para os americanos, é prioritário exportar mais e importar menos.
AUTORIDADES ocidentais estavam acostumadas a pressionar o governo chinês para deixar valorizar-se o yuan. Quando foi emitido o comunicado oficial do G-20, em 25 de Setembro último, a primeira interpretação pareceu fácil: o apelo à coordenação era mais um recado dirigido ao Governo da China. Mas o problema cambial era de fato mais complicado e envolvia mais que a subvalorização da moeda chinesa.
O DÓLAR atingiu nos últimos dias o seu nível mais baixo, em 14 meses, em relação às moedas dos seis principais parceiros comerciais dos Estados Unidos da América (EUA). Desde o começo de Março deste ano, a moeda norte-americana caiu 15% em relação ao euro e 11% em relação ao iene e não há sinais de estabilização a curto prazo.
DESDE a reunião de cúpula do G-20, autoridades financeiras das economias mais avançadas intensificaram as pressões sobre o governo norte-americano para defender o dólar. O secretário do Tesouro dos EUA, Timothy Geithner, prometeu mais de uma vez atender aos interesses da comunidade internacional. A última resposta pública foi dada em Istambul, depois de uma reunião de ministros de Finanças do grupo das sete maiores potências capitalistas (G-7), durante a assembleia anual do FMI. "É importante para os EUA", disse Geithner, "continuarmos a ter um dólar forte”.
TAIS declarações foram feitas seriamente e com efeitos práticos no governo do ex-presidente norte-americano Ronald Reagan, no começo dos anos 1980. Foram repetidas, com menores efeitos, nas administrações seguintes. Agora, as frases de Geithner são recebidas com claras manifestações de ceticismo por analistas privados. Autoridades estrangeiras não podem simplesmente pôr em dúvida, em público, as palavras do secretário norte-americano. Mas não deixam de insistir na urgência de uma solução. O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, voltou a alertar, semana passada, para os perigos criados pela instabilidade cambial, mas fez uma referência diplomática ao espírito de cooperação entre as potências dos dois lados do Atlântico Norte.
PORÉM, os ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais não podem fazer muito mais do que reclamar e pressionar. A curto prazo, não há uma alternativa séria para o dólar como ativo de reserva internacional - embora a participação do dólar no total de reservas mantidas em todo o mundo tenha diminuído de 65% para 62,8% no primeiro trimestre.
ENQUANTO isso, os produtores norte-americanos colhem os benefícios da moeda depreciada. Entre Abril e Julho o valor mensal das exportações aumentou 5,8%, de US$ 120,6 bilhões para US$ 127,6 bilhões. Por que o governo norte-americano se esforçaria para defender sua moeda? Como não há ameaça iminente de inflação, a autoridade monetária dos EUA, o Federal Reserve (Fed), mantém os juros básicos entre zero e 0,25%. É um bom estímulo para os investidores buscarem aplicações mais lucrativas em outros mercados, valorizando outras moedas, incluído o real, além do ouro e do petróleo. A redução do déficit fiscal norte-americano só ocorrerá ao longo de vários anos e essa perspectiva também contribui para depreciar o dólar. Por enquanto, o problema é só dos outros.
NO BRASIL, a valorização do real ante o dólar não pode ser atribuída à falta de intervenção do Banco Central do Brasil (BC). Desde que voltou a intervir no mercado cambial em Maio, até o final de Setembro último o BC comprou US$ 14,3 bilhões, enquanto o saldo das operações de câmbio no período ficou em US$ 9,8 bilhões. Durante o período, as operações tiveram fortes variações, mas se percebe que, à medida que aumentava o saldo cambial, a intervenção do BC se intensificava.
EM SETEMBRO, o saldo cambial positivo de US$ 1,369 bilhão foi inferior ao do mês anterior de US$ 2,957 bilhões. O saldo do fluxo financeiro foi de US$ 4,590 bilhões, com entradas de US$ 33,186 bilhões. Ao contrário, o saldo comercial ficou deficitário em US$ 3,225 bilhões, com exportações de US$ 9,619 bilhões, muito abaixo das importações que aparecem nos dados da balança comercial (US$ 20 bilhões). Essa diferença se deve em grande parte ao fato de os exportadores manterem no exterior parte das suas receitas, como permite a legislação. Mais cedo ou mais tarde essa receita aparecerá no fluxo cambial.
É RELEVANTE registrar que, em Setembro, as compras do BC somaram US$ 3,481 bilhões,valor 155% superior ao fluxo cambial, que mostra a preocupação das autoridades monetárias com a valorização excessiva do real, mas que também levou em conta o aumento de US$ 2,1 bilhões da posição comprada dos bancos, que parecem acreditar em desvalorização do real.
O BC, todavia, está se preparando para um aumento importante do fluxo cambial em razão da Oferta Pública Inicial (IPO) do Banco Santander. Admite-se que, no último dia 06 de Outubro, as entradas vinculadas a essa operação teriam ultrapassado US$ 4 bilhões. A evolução da taxa cambial nos últimos dias reflete essas vultosas entradas.
AQUI a questão é saber se a intervenção do BC é eficiente para conter a alta do real e se não tem um custo elevado. Sabe-se que essas compras do BC se destinam à constituição de reservas, cuja remuneração é muito inferior ao seu custo e que se desvalorizam quando cai o valor do dólar.
TAIS compras representam uma injeção de liquidez na economia que o BC, como guardião da moeda e autoridade monetária do País, tem de neutralizar através de operações de open market que muitas vezes tomam a forma de vendas de títulos com promessas de recompra o que finalmente aumenta a dívida mobiliária que tem custo elevado. No entanto, é difícil, na conjuntura atual, negar a necessidade da intervenção do BC.
<< Página inicial