Encontro revelado
RIO DE JANEIRO - ESTÁ TUDO lá! Na manhã do dia 09 de Outubro de 2008, a então secretária da Receita Federal do Brasil, Lina Maria Vieira, reuniu-se a sós no Palácio do Planalto em Brasília (DF) com a ministra-chefe do Gabinete Civil da Presidência da República, Dilma Rousseff (PT-RS), a chamado dela. O encontro - no qual a ministra lhe teria pedido para "agilizar" a devassa da fiscalização da Receita Federal na contabilidade de Fernando Sarney, filho do presidente do Senado Federal, José Sarney (PMDB-AP) - consta da agenda de Lina naquela data. Há dois meses, quando ela confirmou a reunião numa entrevista à reportagem do Jornal Folha de S. Paulo, a reação da ministra Rousseff foi taxativa. "A reunião privada, a que ela se refere, eu não tive", assegurou. Convocada dias depois a depor no Senado Federal, Lina não apenas manteve o que dissera, como acrescentou detalhes de sua ida ao Palácio do Planalto que não deixaram dúvidas sobre quem falava a verdade e quem mentia no caso.
MESMO assim, o governo achava que o episódio daria em nada porque Lina Vieira não estava de posse da agenda que sustentaria a sua versão. Demitida em Julho último do comando da Receita Federal, ela alegava que o documento estava na mudança enviada a Natal (RN), onde vivia. Além disso, Lina Vieira não soube precisar quando se reuniu com Rousseff. Mencionou, em termos vagos, o "final do ano", o que permitiu ao governo afirmar que não havia nenhum registro da presença de Lina no Planalto do Planalto em Novembro e Dezembro de 2008 - nem poderia haver agora se sabe. Instado, pela Oposição, a fornecer as imagens do circuito interno de TV do palácio, o governo informou que as fitas eram apagadas após 30 dias. Mas o serviço de informações do Palácio do Planalto informou que Lina Vieira esteve ali em Outubro.
Aparentemente segura de si, Dilma Rousseff desafiou a ex-secretária da Receita Federal a provar o que dissera no Senado Federal. Lina Vieira havia acusado Dilma Rousseff de ter-lhe feito um pedido "incabível", numa "ingerência desnecessária e descabida" na investigação da Receita Federal, por ordem judicial de Setembro de 2007, sobre as contas do primogênito do senador José Sarney, responsável pelos negócios da família maranhense. (Da operação resultaram 17 ações fiscais contra o empresário e a sua mulher.) "A gente não afirma, a gente prova", fustigou a ministra Pinóquio. "Não estamos na Idade Média, em que se prova a veracidade de alguma coisa por ênfase”. Lina Vieira, de fato, foi enfática ao dizer que "não mudo a verdade no grito", assim como ao relatar que nada fez para atender ao pedido de Dilma Rousseff, depois de se certificar que "tudo estava em ordem" com a devassa. "Não dei retorno", contou.
LINA Vieira disse ainda - e, pelo visto, sabia do que falava - que "não precisava da agenda para dizer a verdade". Era uma resposta ao vosso presidente da República Luiz Inácio da Silva (2003-10) que, ao comprar pelo valor de face o desmentido de sua escolhida para suceder-lhe, se intrometeu desabridamente na história. "Qual a razão que essa secretária tinha para dizer que conversou com a Dilma e não mostrar a agenda?", perguntou. "Só tem um jeito: abrir a mala em que ela levou a agenda e mostrar a agenda para todo mundo", provocou. "(Então) era só pegar as duas agendas e ver o que aconteceu". Acaba de levar o troco. A agenda apareceu e, segundo Lina Vieira, citada pela reportagem da revista Veja, "mostra o dia, a hora e o assunto tratado no encontro" com Dilma Pinóquio Roussef. Logo em seguida à reunião, ela escreveu: "Dar retorno à ministra sobre família Sarney" - o que acabou não fazendo.
LINA Vieira teria encontrado a agenda apenas dois dias depois do seu depoimento no Senado Federal. Mas, de acordo com a reportagem do Jornal Folha de S. Paulo, ela ficou receosa de apresentar o documento porque teria recebido recados de pessoas ligadas ao governo Luiz Inácio da Silva para deixar o assunto "morrer". Depois de uma viagem ao exterior e disposta a dar um "desfecho formal" ao caso, está pronta a entregar a agenda ao Ministério Público Federal (MPF), caso seja convocada. Talvez tenha de fazer mais do que isso. "O presidente Lula não pediu que Lina mostrasse a agenda? Agora é bom que as duas mostrem. Essa questão precisa de esclarecimento", argumenta o senador Sérgio Guerra (PSDB-PE). "Dilma Rousseff terá de vir a público e se explicar", cobra o líder do DEM, José Agripino (DEM-RN).
QUANDO Lina Vieira disse no Senado Federal que não tinha sido pressionada pela ministra Rousseff, os líderes da base governista se apressaram a declarar que, diante disso, "se houve ou não o encontro, não tem mais importância central". Nunca deixou de ter. A partir do momento em que Dilma Pinóquio Rousseff negou de forma cabal a reunião privada com Lina Vieira, tratava-se de saber em primeiro lugar se a ministra-candidata falou a verdade ou faltou com a verdade. A resposta está dada.
MESMO assim, o governo achava que o episódio daria em nada porque Lina Vieira não estava de posse da agenda que sustentaria a sua versão. Demitida em Julho último do comando da Receita Federal, ela alegava que o documento estava na mudança enviada a Natal (RN), onde vivia. Além disso, Lina Vieira não soube precisar quando se reuniu com Rousseff. Mencionou, em termos vagos, o "final do ano", o que permitiu ao governo afirmar que não havia nenhum registro da presença de Lina no Planalto do Planalto em Novembro e Dezembro de 2008 - nem poderia haver agora se sabe. Instado, pela Oposição, a fornecer as imagens do circuito interno de TV do palácio, o governo informou que as fitas eram apagadas após 30 dias. Mas o serviço de informações do Palácio do Planalto informou que Lina Vieira esteve ali em Outubro.
Aparentemente segura de si, Dilma Rousseff desafiou a ex-secretária da Receita Federal a provar o que dissera no Senado Federal. Lina Vieira havia acusado Dilma Rousseff de ter-lhe feito um pedido "incabível", numa "ingerência desnecessária e descabida" na investigação da Receita Federal, por ordem judicial de Setembro de 2007, sobre as contas do primogênito do senador José Sarney, responsável pelos negócios da família maranhense. (Da operação resultaram 17 ações fiscais contra o empresário e a sua mulher.) "A gente não afirma, a gente prova", fustigou a ministra Pinóquio. "Não estamos na Idade Média, em que se prova a veracidade de alguma coisa por ênfase”. Lina Vieira, de fato, foi enfática ao dizer que "não mudo a verdade no grito", assim como ao relatar que nada fez para atender ao pedido de Dilma Rousseff, depois de se certificar que "tudo estava em ordem" com a devassa. "Não dei retorno", contou.
LINA Vieira disse ainda - e, pelo visto, sabia do que falava - que "não precisava da agenda para dizer a verdade". Era uma resposta ao vosso presidente da República Luiz Inácio da Silva (2003-10) que, ao comprar pelo valor de face o desmentido de sua escolhida para suceder-lhe, se intrometeu desabridamente na história. "Qual a razão que essa secretária tinha para dizer que conversou com a Dilma e não mostrar a agenda?", perguntou. "Só tem um jeito: abrir a mala em que ela levou a agenda e mostrar a agenda para todo mundo", provocou. "(Então) era só pegar as duas agendas e ver o que aconteceu". Acaba de levar o troco. A agenda apareceu e, segundo Lina Vieira, citada pela reportagem da revista Veja, "mostra o dia, a hora e o assunto tratado no encontro" com Dilma Pinóquio Roussef. Logo em seguida à reunião, ela escreveu: "Dar retorno à ministra sobre família Sarney" - o que acabou não fazendo.
LINA Vieira teria encontrado a agenda apenas dois dias depois do seu depoimento no Senado Federal. Mas, de acordo com a reportagem do Jornal Folha de S. Paulo, ela ficou receosa de apresentar o documento porque teria recebido recados de pessoas ligadas ao governo Luiz Inácio da Silva para deixar o assunto "morrer". Depois de uma viagem ao exterior e disposta a dar um "desfecho formal" ao caso, está pronta a entregar a agenda ao Ministério Público Federal (MPF), caso seja convocada. Talvez tenha de fazer mais do que isso. "O presidente Lula não pediu que Lina mostrasse a agenda? Agora é bom que as duas mostrem. Essa questão precisa de esclarecimento", argumenta o senador Sérgio Guerra (PSDB-PE). "Dilma Rousseff terá de vir a público e se explicar", cobra o líder do DEM, José Agripino (DEM-RN).
QUANDO Lina Vieira disse no Senado Federal que não tinha sido pressionada pela ministra Rousseff, os líderes da base governista se apressaram a declarar que, diante disso, "se houve ou não o encontro, não tem mais importância central". Nunca deixou de ter. A partir do momento em que Dilma Pinóquio Rousseff negou de forma cabal a reunião privada com Lina Vieira, tratava-se de saber em primeiro lugar se a ministra-candidata falou a verdade ou faltou com a verdade. A resposta está dada.
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