Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

sábado, julho 25, 2009

Tempestades no horizonte pós-crise

CAMPOS DO JORDÃO (SP) - A ECONOMIA mundial vai ter uma convalescença difícil e perigosa, depois da maior crise financeira desde a 2ª Guerra Mundial. Depois de gastar trilhões de dólares para conter os estragos e evitar uma depressão, os governos do mundo rico estarão atolados em dívidas. Outro dia, o Secretário do Tesouro Norte-americano anunciou um déficit público recorde de US$ 1,09 trilhão. Esse foi o resultado das contas públicas até Junho, mas o ano fiscal só terminará em 30 de Setembro e até lá o rombo poderá chegar, segundo a projeção oficial, a US$ 1,84 trilhão. Para o próximo ano fiscal a previsão é mais otimista: o déficit poderá diminuir para US$ 1,26 trilhão, mas o buraco ainda será quase o triplo do contabilizado na temporada de 2008, US$ 454,8 bilhões. A arrumação dessa bagunça financeira vai, certamente, custar caro.

DE 2009 até 2011, os déficits federais norte-americanos ficarão em média na vizinhança de 9% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo projeção divulgada no mês passado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), depois da revisão anual das condições econômicas dos Estados Unidos da América (EUA). A dívida federal deverá atingir 75% do PIB e, como os prazos de vencimento estão encurtando, as necessidades brutas de financiamento do Tesouro Norte-americano deverão equivaler a 30% da riqueza produzida no país.

TODO esse dinheiro, é fácil adivinhar, será obtido no mercado internacional e para isso o Tesouro dos EUA terá de pagar, quase certamente, juros bem maiores que os da fase de prosperidade. Nenhum país ficará livre das consequências desse encarecimento do crédito.

ESTE case norte-americano é o mais notável apenas pela dimensão da economia dos EUA, mas todas as potências monetárias deverão enfrentar dificuldades fiscais, depois dos enormes volumes de dinheiro lançados no mercado para combater a crise. No Reino Unido, o déficit público passou de 2,7% do PIB em 2007 para 7,1% em 2008, deve chegar a 12,9% em 2009 e poderá alcançar 13,25% no próximo ano fiscal, segundo os cálculos do FMI. No Japão, o déficit está projetado em 11,6% do PIB, este ano. Em 2008 chegou a 6,7%, pouco mais que o dobro do registrado em 2007, 3,3%. Quadros parecidos são encontrados quando se examinam as contas das outras grandes economias capitalistas. Na zona do euro, o limite de 3% do PIB para o déficit público, fixado para a convergência fiscal dos países-membros do clube, é hoje uma vaga memória.

FAZ parte da atividade regular do FMI o exame periódico das condições econômicas dos países sócios. As consultas entre os economistas do organismo internacional e o pessoal dos vários governos são previstas no artigo 4º do Acordo Constitutivo e as conclusões e recomendações são normalmente divulgadas. Nesta temporada, uma recomendação se repete em todo relatório produzido sobre as economias do mundo rico: embora a crise não esteja superada e falte completar algumas tarefas, com destaque para o ajuste do setor financeiro, é prudente pensar desde já numa estratégia de saída. Será preciso desmontar o enorme aparato financeiro de ajuda a bancos, empresas e famílias endividadas. Os governos terão, em alguns casos, de eliminar gradualmente os incentivos. "Com uma dívida pública já elevada, o custo da recessão e os estímulos fiscais devem piorar de forma considerável a perspectiva fiscal no médio prazo", está escrito no relatório sobre a França. O prognóstico se repete no material produzido pelas várias missões.

UM grupo de economistas do FMI acaba de publicar um pequeno trabalho sobre a importância de apresentar publicamente o conjunto de "riscos fiscais no mundo pós-crise". Os próprios governos poderão atuar com maior segurança, de acordo com o documento, se estiverem preparados para avaliar as consequências possíveis dos problemas acumulados.

UM panorama se complica, desta vez, com grandes grupos em apuros. Neste ano, 128 companhias de peso já se tornaram insolventes e outras 207, segundo a agencia de risco Standard & Poors, poderão não evitar o calote.

A TAL convalescença global será uma fase ruim para quem precisar seriamente de financiamento. Mas o governo brasileiro insiste em aumentar os gastos permanentes, a começar pelos salários. Empenhado na campanha eleitoral, o vosso presidente da República Luiz Inácio da Silva (PT-SP) expõe o País a perigos muito graves nos próximos anos. Alguém de fora do circo do lulismo deveria alertá-lo com urgência.