Delírios em Harvard
RAUL SOARES (MG) - ROBERTO Mangabeira Unger (PDT-RJ), há algumas semanas, deixou o Ministério e voltou para a Universidade Harvard, nos Estados Unidos da América (EUA), onde leciona direito desde meados da década de 1970, porque a reitoria daquela renomada instituição norte-americana se recusou a prorrogar a licença que solicitara há dois anos. Na realidade, o que Mangabeira Unger receava era não completar o período necessário para se aposentar pela instituição - algo de todo compreensível, desde que o interessado não pretenda ao mesmo tempo enveredar pela vida pública, a fim de desfrutar do melhor dos dois mundos. De todo modo, é o caso de dizer que a sua ausência preencherá uma lacuna. A direção de Harvard livrou o vosso presidente da República da cansativa companhia de uma das mais pretensiosas figuras que já passaram pelo Palácio do Planalto, cuja megalomania só se compara ao seu também irrefreável oportunismo - o que, pelos padrões do centro do poder nacional, não é propriamente pouca coisa.
SUA PASSAGEM pela Esplanada dos Ministérios, no Distrito Federal (DF), foi um exemplo peculiar dos efeitos do compadrio político. Em 2007, para fazer um favor ao vice-presidente da República, José Alencar Gomes da Silva (PRB-MG), Luiz Inácio da Silva (PT-SP) deu um jeito de abrigar o dublê de acadêmico, demiurgo e consultor regiamente pago (do banqueiro Daniel Dantas) que, depois de passar pelo PMDB, PDT e PPS, se hospedara no evangélico PRB de José Alencar. Nunca antes na história desta administração o vosso presidente tinha acolhido um crítico tão implacável dos seus procedimentos. Meros dois anos antes, ele escrevera que “o governo Luiz Inácio da Silva era o governo mais corrupto" que o País já havia conhecido. "Corrupção tanto mais nefasta", explicara, "por servir à compra de congressistas, à politização da Polícia Federal e das agências reguladoras, ao achincalhamento dos partidos políticos e à tentativa de dobrar qualquer instituição do Estado capaz de se contrapor a seus desmandos". Mas em Brasília (DF) a catilinária de ontem é a louvação de hoje, e a memória é sempre seletiva.
PARA acomodar Mangabeira Unger, “O-CARA” criou uma Secretaria Especial para Ações de Longo Prazo (SEALP), cuja denominação precisou ser mudada para Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), porque, numa eloqüente irreverência, logo ficara conhecida como Sealopra. A primeira e duradoura conseqüência nefasta desse arranjo foi a transferência do respeitado Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) do Ministério do Planejamento Orçamento e Gestão para a nova e descarnada repartição, abrindo as portas ao seu aparelhamento pelo petismo mais ideologicamente retardado. De tudo mais se encarregava o ministro que nunca perdeu a oportunidade de dizer em mil palavras o que se poderia dizer em cem. O produto resultou nas resmas de propostas salvacionistas sobre lo que quiera, como dizem os espanhóis: relações de trabalho, estrutura do Estado, políticas regionais, defesa nacional, ensino médio?
TALVEZ para que se ocupasse de algo menos fosfórico, o vosso presidente da República o incumbiu de coordenar o Plano Amazônia Sustentável (PAS), o que provocou a saída da então ministra de Estado do Meio Ambiente, senadora Marina Silva (PT-AC), que afirmou na saída: "perco o pescoço, mas não perco o juízo", e a Estratégia Nacional de Defesa, do que resultou um texto delirante em cuja apresentação Mangabeira Unger bradou: "O Brasil vai às armas!" Provavelmente Mangabeira Unger gostaria que as suas "políticas transformadoras" o levassem a ser tido como um genial visionário. Mas as suas idéias são, antes, as de "um bicho estranho", como “O-CARA” o classificou diante de uma amostra delas. A colega jornalista Rosangela Bittar, do Jornal Valor Econômico, lembra que, certa vez, a ministra-chefe do Gabinete Civil da Presidência da República, Dilma Rousseff (PT-SP), convocou uma reunião de ministros para discutir outra obra da lavra do professor Mangabeira Unger, o Plano Nordeste. Alguns deles não esconderam a perplexidade ao ler a sua exaltação ao mel de Picos, árida cidade piauiense, "quando na região já se apresentavam nichos importantes de exportação, deixados ao largo pelo autor".
AGORA, Mangabeira Unger pretende que a sua volta para Harvard seja temporária, entremeada de incursões periódicas ao Brasil. Diz que o “O-CARA” o convidou para ser conselheiro e consultor do governo. E já espalhou a sua intenção de mudar de partido pela quarta vez, regressando ao PMDB, para o que der e vier em 2010. "Estou ampliando todas as minhas possibilidades", disse à reportagem do Jornal Folha de S.Paulo. Desde apoiar a candidatura Rousseff, de quem parece fantasiar o lugar de vice, "até ser eu mesmo o candidato" - confirmando que nada para o seu avantajado ego rivaliza em grandeza com ele mesmo.
SUA PASSAGEM pela Esplanada dos Ministérios, no Distrito Federal (DF), foi um exemplo peculiar dos efeitos do compadrio político. Em 2007, para fazer um favor ao vice-presidente da República, José Alencar Gomes da Silva (PRB-MG), Luiz Inácio da Silva (PT-SP) deu um jeito de abrigar o dublê de acadêmico, demiurgo e consultor regiamente pago (do banqueiro Daniel Dantas) que, depois de passar pelo PMDB, PDT e PPS, se hospedara no evangélico PRB de José Alencar. Nunca antes na história desta administração o vosso presidente tinha acolhido um crítico tão implacável dos seus procedimentos. Meros dois anos antes, ele escrevera que “o governo Luiz Inácio da Silva era o governo mais corrupto" que o País já havia conhecido. "Corrupção tanto mais nefasta", explicara, "por servir à compra de congressistas, à politização da Polícia Federal e das agências reguladoras, ao achincalhamento dos partidos políticos e à tentativa de dobrar qualquer instituição do Estado capaz de se contrapor a seus desmandos". Mas em Brasília (DF) a catilinária de ontem é a louvação de hoje, e a memória é sempre seletiva.
PARA acomodar Mangabeira Unger, “O-CARA” criou uma Secretaria Especial para Ações de Longo Prazo (SEALP), cuja denominação precisou ser mudada para Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), porque, numa eloqüente irreverência, logo ficara conhecida como Sealopra. A primeira e duradoura conseqüência nefasta desse arranjo foi a transferência do respeitado Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) do Ministério do Planejamento Orçamento e Gestão para a nova e descarnada repartição, abrindo as portas ao seu aparelhamento pelo petismo mais ideologicamente retardado. De tudo mais se encarregava o ministro que nunca perdeu a oportunidade de dizer em mil palavras o que se poderia dizer em cem. O produto resultou nas resmas de propostas salvacionistas sobre lo que quiera, como dizem os espanhóis: relações de trabalho, estrutura do Estado, políticas regionais, defesa nacional, ensino médio?
TALVEZ para que se ocupasse de algo menos fosfórico, o vosso presidente da República o incumbiu de coordenar o Plano Amazônia Sustentável (PAS), o que provocou a saída da então ministra de Estado do Meio Ambiente, senadora Marina Silva (PT-AC), que afirmou na saída: "perco o pescoço, mas não perco o juízo", e a Estratégia Nacional de Defesa, do que resultou um texto delirante em cuja apresentação Mangabeira Unger bradou: "O Brasil vai às armas!" Provavelmente Mangabeira Unger gostaria que as suas "políticas transformadoras" o levassem a ser tido como um genial visionário. Mas as suas idéias são, antes, as de "um bicho estranho", como “O-CARA” o classificou diante de uma amostra delas. A colega jornalista Rosangela Bittar, do Jornal Valor Econômico, lembra que, certa vez, a ministra-chefe do Gabinete Civil da Presidência da República, Dilma Rousseff (PT-SP), convocou uma reunião de ministros para discutir outra obra da lavra do professor Mangabeira Unger, o Plano Nordeste. Alguns deles não esconderam a perplexidade ao ler a sua exaltação ao mel de Picos, árida cidade piauiense, "quando na região já se apresentavam nichos importantes de exportação, deixados ao largo pelo autor".
AGORA, Mangabeira Unger pretende que a sua volta para Harvard seja temporária, entremeada de incursões periódicas ao Brasil. Diz que o “O-CARA” o convidou para ser conselheiro e consultor do governo. E já espalhou a sua intenção de mudar de partido pela quarta vez, regressando ao PMDB, para o que der e vier em 2010. "Estou ampliando todas as minhas possibilidades", disse à reportagem do Jornal Folha de S.Paulo. Desde apoiar a candidatura Rousseff, de quem parece fantasiar o lugar de vice, "até ser eu mesmo o candidato" - confirmando que nada para o seu avantajado ego rivaliza em grandeza com ele mesmo.
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