Inimigo oculto
RIO DE JANEIRO - FOI em tom de comemoração que o Escritório da Organização das Nações Unidas para Drogas e Crime (Unodc) divulgou, no final de Junho, o Relatório Mundial sobre Drogas 2009, no qual celebra os cem anos de campanhas contra elas, tidos como um dos resultados mais positivos da cooperação internacional. E realmente, o mundo tem motivos para comemorar, porquanto, segundo o relatório, "o mercado global de cocaína, de US$ 50 bilhões, sofreu abalos sísmicos", tendo a produção caído em 15% - a maior queda em cinco anos. Mas, no Brasil, não há motivo para se comemorar coisa alguma, pois, ao contrário do que ocorre no mundo, o consumo de cocaína quase dobrou em três anos - com o número de brasileiros hoje viciados nessa droga chegando à casa dos 890 mil. E o mais grave é que aqui houve um aumento substancial do consumo de crack, derivado mais barato e mais maléfico da cocaína, cujos volumes de apreensão triplicaram, indo de 145 mil para 578 mil quilos. Como diz Bo Mathiasen, representante da Unodc em nosso País, "o crack vicia muito, agravando, rapidamente, o problema da dependência química".
EMBORA tenham sua lógica, parecem-nos até paradoxais as explicações que os especialistas da Organização das Nações Unidas (ONU) dão para o aumento grande e rápido do consumo de drogas no Brasil, resultante, segundo eles, de dois fatores positivos: o primeiro, é a melhoria da situação econômica brasileira, com mais pessoas passando a fazer parte da chamada classe média - hoje em torno de 51% da população, segundo levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Um dos efeitos disso seria a destinação de mais dinheiro para a compra de entorpecentes. O segundo fator seria a melhoria das estatísticas sobre o número de usuários de drogas, em parte pelo aumento das apreensões e em parte pelo aumento do atendimento de viciados nos serviços de saúde. Quer dizer, o País estaria mais bem aparelhado para reprimir as drogas e tratar dos viciados - e por isso apareceriam as quantidades maiores de drogados.
SEM contestar o diagnóstico dos especialistas da Unodc, não há como deixar de acrescentar aos fatores mencionados, um outro, de natureza axiológica, relacionado com a quebra geral de valores - na sociedade, em geral, e na família, em particular - que tem levado a um generalizado desregramento de costumes e comportamentos ou a uma ausência de freios morais que estabeleçam os limites que antes subsistiam no convívio civilizado das comunidades, pelo menos no Ocidente. E aqui é oportuno lembrar o que dizia o filósofo Julian Marías, quanto ao fato de o uso das drogas ser incompatível com o tipo de civilização ocidental - embora possa conviver bem com outras, como certos povos indígenas ou orientais -, porque nossa civilização tem como um de seus alicerces fundamentais a racionalidade que herdamos do pensamento greco-romano. E este nos parece, a propósito, o argumento principal contra a idéia que muitos defendem de legalizar o uso de entorpecentes, com base na suposição - já desmentida pela experiência de algumas cidades do mundo - de que seu livre comércio haveria de reduzir seu consumo. O documento da entidade ligada à ONU, aliás, rejeita taxativamente a hipótese de legalização.
ORA, SE no mundo de hoje há um problema generalizado de perda de valores, por que na sociedade brasileira - e, em especial, em nossa juventude - isso repercutiria de maneira mais intensa, no que diz respeito ao uso de drogas? Em outras palavras, será que o corpo social brasileiro estará mais esgarçado do que o de outros povos do mundo, no tocante à preservação de seus valores? Quando examinamos nosso baixo nível educacional, os volumes de nossa criminalidade e, de modo consectário, os de nossa impunidade, e sobretudo os padrões éticos vigentes em nosso espaço público-político, especialmente nos últimos tempos, pode-se fazer tristes associações. Se no tenebroso capítulo das drogas o País está marchando na contramão do resto do mundo civilizado - e, desgraçadamente, em velocidade espantosa -, há que examinarmos, com a máxima preocupação, até que ponto estamos nos afastando dos princípios e valores que forjaram as melhores democracias do mundo contemporâneo.
EM Brasília (DF) anunciou-se, após a divulgação do relatório da Unodc, que as Forças Armadas e o Departamento de Polícia Federal (DPF) redobrarão os esforços conjuntos para combater a entrada de drogas nas fronteiras. É medida necessária que, no entanto, só será eficaz com o reforço dos valores familiares.
EMBORA tenham sua lógica, parecem-nos até paradoxais as explicações que os especialistas da Organização das Nações Unidas (ONU) dão para o aumento grande e rápido do consumo de drogas no Brasil, resultante, segundo eles, de dois fatores positivos: o primeiro, é a melhoria da situação econômica brasileira, com mais pessoas passando a fazer parte da chamada classe média - hoje em torno de 51% da população, segundo levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Um dos efeitos disso seria a destinação de mais dinheiro para a compra de entorpecentes. O segundo fator seria a melhoria das estatísticas sobre o número de usuários de drogas, em parte pelo aumento das apreensões e em parte pelo aumento do atendimento de viciados nos serviços de saúde. Quer dizer, o País estaria mais bem aparelhado para reprimir as drogas e tratar dos viciados - e por isso apareceriam as quantidades maiores de drogados.
SEM contestar o diagnóstico dos especialistas da Unodc, não há como deixar de acrescentar aos fatores mencionados, um outro, de natureza axiológica, relacionado com a quebra geral de valores - na sociedade, em geral, e na família, em particular - que tem levado a um generalizado desregramento de costumes e comportamentos ou a uma ausência de freios morais que estabeleçam os limites que antes subsistiam no convívio civilizado das comunidades, pelo menos no Ocidente. E aqui é oportuno lembrar o que dizia o filósofo Julian Marías, quanto ao fato de o uso das drogas ser incompatível com o tipo de civilização ocidental - embora possa conviver bem com outras, como certos povos indígenas ou orientais -, porque nossa civilização tem como um de seus alicerces fundamentais a racionalidade que herdamos do pensamento greco-romano. E este nos parece, a propósito, o argumento principal contra a idéia que muitos defendem de legalizar o uso de entorpecentes, com base na suposição - já desmentida pela experiência de algumas cidades do mundo - de que seu livre comércio haveria de reduzir seu consumo. O documento da entidade ligada à ONU, aliás, rejeita taxativamente a hipótese de legalização.
ORA, SE no mundo de hoje há um problema generalizado de perda de valores, por que na sociedade brasileira - e, em especial, em nossa juventude - isso repercutiria de maneira mais intensa, no que diz respeito ao uso de drogas? Em outras palavras, será que o corpo social brasileiro estará mais esgarçado do que o de outros povos do mundo, no tocante à preservação de seus valores? Quando examinamos nosso baixo nível educacional, os volumes de nossa criminalidade e, de modo consectário, os de nossa impunidade, e sobretudo os padrões éticos vigentes em nosso espaço público-político, especialmente nos últimos tempos, pode-se fazer tristes associações. Se no tenebroso capítulo das drogas o País está marchando na contramão do resto do mundo civilizado - e, desgraçadamente, em velocidade espantosa -, há que examinarmos, com a máxima preocupação, até que ponto estamos nos afastando dos princípios e valores que forjaram as melhores democracias do mundo contemporâneo.
EM Brasília (DF) anunciou-se, após a divulgação do relatório da Unodc, que as Forças Armadas e o Departamento de Polícia Federal (DPF) redobrarão os esforços conjuntos para combater a entrada de drogas nas fronteiras. É medida necessária que, no entanto, só será eficaz com o reforço dos valores familiares.
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