A retórica e a reprovação recorde
POR falar em
Educação, os últimos números divulgados pelo Ministério da Educação (MEC)
revelam que, no ano passado, o índice de reprovação na rede pública e privada
do Ensino Médio foi de 13,1% - o maior dos últimos 13 anos. Em 2010, foi de
12,5%. Os alunos reprovados não conseguem ler, escrever e calcular com o mínimo
de aptidão, tendo ingressado no Ensino Médio com nível de conhecimento equivalente
ao da 5ª série do Ensino Fundamental.
O ESTADO do Rio
Grande do Sul aparece com o maior índice de reprovados: 20,7% dos alunos. Em
segundo lugar aparecem, empatados, o Estado do Rio de Janeiro e o Distrito
Federal (DF), com índice de 18,%, seguidos pelo Estado do Espírito Santo
(18,4%) e o Estado do Mato Grosso (18,2%). A rede municipal de Ensino Médio na
região urbana de Belém (PA) foi a que apresentou o maior índice de reprovação
do País (62,5%), seguida pela rede federal na zona rural do Estado do Mato
Grosso do Sul (40,3%). No Estado de São Paulo, o índice pulou de 11% para
15,4%, entre 2010 e 2011.
OS ESTADOS com os
menores índices de reprovação foram Amazonas (6%), Ceará (6,7%), Santa Catarina
(7,5%), Paraíba (7,7%) e Rio Grande do Norte (8%). Os indicadores também
mostram que 9,6% dos estudantes da rede pública e privada do Ensino Médio
abandonaram a escola - em 2010, a taxa foi de 10,3%; em 2009, ela foi de 11,5%;
e em 2008, de 12,8%.
JÁ NA rede pública
e privada de Ensino Fundamental, o movimento foi inverso ao do Ensino Médio.
Entre 2010 e 2011, a taxa média de reprovação caiu de 10,3% para 9,6% e o
índice de abandono diminuiu de 3,1% para 2,8%, no período. Os Estados com os
maiores índices de repetência foram Sergipe (19,5%), Bahia (18,5%), Alagoas
(15,2%), Rio Grande do Norte (14,9%) e Rondônia (14,2%). Se forem consideradas
apenas as escolas públicas, as redes de Ensino Fundamental da Bahia e do
Sergipe foram as que registraram os mais altos índices de reprovação do País (26,6%
e 22,5%, respectivamente). Os Estados com as menores taxas de reprovação foram
Mato Grosso (3,6%), Santa Catarina (4,4%), São Paulo (4,9%), Minas Gerais
(7,3%) e Goiás (7,6%).
TAIS números, que
atestam o fracasso da política educacional dos governos Luiz Inácio da Silva
(2003-10) e Dilma Wana Rousseff (2011-14), foram divulgados este mês, pelo Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), vinculado
ao MEC. Como não havia nada para comemorar ou para ser explorado politicamente
pelo governo na campanha eleitoral deste ano, a divulgação foi feita de maneira
muito discreta - evidentemente, para não prejudicar a imagem do ex-ministro de
Estado da Educação, Fernando Haddad (PT-SP), pré-candidato à Prefeitura de São
Paulo nas eleições municipais de Outubro próximo .
HÁ cinco anos, em
2007, ao depor na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, Haddad afirmou
que o Ensino médio vivia uma "crise
aguda" e reconheceu que as políticas até então adotadas pelo governo
federal para estimular os governos estaduais a modernizarem o Ensino Médio não
vinham surtindo efeito. Em 2008, quando integrou um grupo interministerial com
o então secretário de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, o
professor Roberto Mangabeira Unger (PMDB-RJ), ele pediu ao Conselho Nacional de
Educação (CNE) novas diretrizes curriculares para tentar melhorar a qualidade
do Ensino Médio - o mais problemático de todos os ciclos de ensino.
HOMOLOGADAS no final
de Março deste ano por seu sucessor no MEC, o ministro Aloizio Mercadante, tais
diretrizes sugerem a adoção de "procedimentos
que guardem maior relação com o projeto de vida dos estudantes". A
ideia é tornar o Ensino Médio mais atraente, valorizando a correlação entre
trabalho, ciência, tecnologia e cultura. Quando as diretrizes foram anunciadas,
em meio a mais uma polêmica sobre o desvirtuamento do Exame Nacional do Ensino
Médio (Enem), por causa das mudanças introduzidas por Haddad nesse mecanismo de
avaliação, vários pedagogos afirmaram que elas não eliminarão os gargalos do
Ensino Médio. Para esses pedagogos, as novas diretrizes são mais retóricas do
que práticas e estimulam a oferta de um grande número de disciplinas.
GRITANTES taxas de
reprovação e abandono no Ensino Médio divulgadas pelo Inep/MEC são mais um
sinal de alerta sobre a má qualidade da educação brasileira. E pelas políticas
adotadas até agora, dificilmente esse quadro mudará tão cedo.
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