Educação Básica aviltada
MESMO tendo
recebido reajustes acima da média na última década, os professores da Educação
Básica continuam com os salários mais baixos do Brasil, entre os profissionais
de nível superior. São cerca de dois milhões de profissionais que atendem mais
de 50 milhões de crianças e jovens.
HÁ 12 anos em 2000,
a renda média de um professor do Ensino Fundamental equivalia a 49% do que
ganhavam os demais trabalhadores com nível superior. Já 2010, a relação
aumentou para 59%. No Ensino Médio, a variação pulou de 60% para 72%. Em média,
um médico e um engenheiro civil receberam R$ 7.150 e R$ 6.015 mensais, na década
passada. Os médicos e engenheiros também tiveram a menor taxa de desemprego no
período - 0,7% e 1,7%, respectivamente.
CONTUDO o salário
médio dos professores da educação básica ficou em torno de R$ 1.878 e a taxa de
desemprego foi de 3%, entre 2000 e 2010. Em matéria de vencimentos, os
professores estão atrás de bacharéis em Serviço Social, Enfermagem e atenção
primária e viagens, turismo e lazer. Os números foram extraídos do Censo do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e as tabulações foram feitas pela
reportagem de O GLOBO (Infoglobo S/A).
OS PROFESSORES do
Distrito Federal (DF) recebem os maiores salários da categoria no Brasil - R$
4.367 no Ensino Médio e R$ 3.412 no Ensino Fundamental. Os menores salários são
pagos pelo magistério público dos Estados da Região Nordeste. No Ensino médio,
o salário mais baixo - R$ 1.598 - é o do magistério público no Estado da
Paraíba. No Ensino Fundamental, o salário mais baixo - R$ 1.189 - é pago pelo
governo do Estado da Bahia.
E AS consequências
do aviltamento salarial do professorado são a falta de motivação, a baixa
produtividade e a pequena atratividade da profissão. Por causa dos baixos
salários, a carreira de professor Educação Básica acaba atraindo, salvo
exceções, apenas quem não obteve nota suficiente para ingressar nas faculdades
onde os exames vestibulares são bastante disputados. Sem salário digno, além
disso, o docente não se sente estimulado a se requalificar, a buscar novas
técnicas pedagógicas e a ascender na carreira - pelo contrário, a categoria é
conhecida pelo alto grau de absenteísmo e de afastamento por licenças médicas.
A SOLUÇÃO para o
problema é cara e complexa - e o retorno, em matéria de qualidade de ensino, é
obtido apenas a médio e a longo prazos. O Poder Executivo no Estados e
municípios brasileiros, aos quais estão subordinadas as redes de Ensino
Fundamental e Médio, alegam que não dispõem de recursos próprios para aumentar
os salários do magistério público. E, para pressionar a União a aumentar os
repasses, até hoje muitos prefeitos municipais e governadores de Estado
continuam descumprindo a lei que estabeleceu o piso salarial unificado, em
2008. Só em 2011, isso provocou 17 greves nas redes públicas municipais e
estaduais da Educação Básica.
ADEMAIS, para
melhorar a qualidade do ensino e atrair profissionais mais qualificados para o
magistério não basta apenas aumentar os salários. Também é necessário impor
metas e cobrar maior produtividade - duas exigências que os líderes sindicais
do professorado resistem a acatar. "Sem
salário, não há a menor possibilidade de qualidade. Agora, é claro que é
preciso muito mais do que isso, como carreira, formação e gestão", diz
o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE),
Roberto Franklin Leão. "Não dá para
imaginar que, dobrando o salário do professor, ele vai dobrar o aprendizado dos
alunos. É preciso melhorar os salários para que os alunos aprendam mais, mas o
profissional tem que ser mais cobrado por resultados", afirma a
diretora-executiva do Movimento Todos Pela Educação, Priscila Cruz.
NA última década, nossas
autoridades educacionais agitaram bandeiras mais vistosas do que eficazes. Elas
prometeram distribuir microcomputadores a alunos e tablets a docentes, mas não
cuidaram seriamente do que é mais importante - pagar melhores salários para os
professores e estimulá-los a dar conta de suas funções elementares, em matéria
de ensino da Língua e Literatura Brasileira, Matemática e Ciências. Enquanto
essas tarefas estiverem negligenciadas, o sistema educacional brasileiro
continuará longe de qualquer resultado minimamente aceitável, como atestam os
indicadores nacionais e internacionais de avaliação escolar.
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