Cenários e demandas
NOSSO Produto Interno Bruto (PIB) apresentou um crescimento de 0,5% no terceiro trimestre do ano, ante 1,8%, no segundo trimestre, e 2,3%, no primeiro. É uma desaceleração positiva, pois o ritmo do primeiro trimestre teria conduzido a pontos de estrangulamento favoráveis à inflação.
DITO isso, é necessário destacar alguns pontos negativos da evolução do PIB no terceiro trimestre, tanto em relação ao trimestre anterior quanto ao mesmo trimestre do ano passado. Sob a ótica da produção, houve redução de 1,5% na agropecuária, de 1,65% na indústria de transformação e de 2,3% na construção civil. Em compensação, o setor de intermediação financeira cresceu 3,1% e o de comércio, 1,4%.
SOB ótica da demanda, tivemos uma elevação de 1,6% do consumo das famílias, ante 0,9% no segundo trimestre; de 3,95% na Formação Bruta de Capital Fixo - FBCF (investimentos), ante 4,3% no segundo trimestre; de 2,4% das exportações (consequência do preço das commodities), ante 0,1%; e de 7,4% das importações, ante 5,9%. Em relação ao mesmo trimestre do ano passado, as importações aumentaram 40,9%.
ESTE crescimento está desequilibrado. O consumo das famílias é positivo e o da indústria de transformação, negativo. A FBCF cresceu muito, chegando a 19,4% do PIB, ainda inferior à de 2008 (20,6% do PIB), enquanto a taxa de poupança ficou em 18,5% do PIB, o que leva a recorrer à importação e à poupança externa.
O CONSUMO na administração pública não cresceu no terceiro trimestre, em relação ao segundo, mas foi 4,1% maior do que no mesmo trimestre do ano passado, o que levou a necessidade de financiamento do setor público a R$ 24,1 bilhões, ante R$ 12 bilhões no terceiro trimestre de 2009. Isso mostra que o governo deveria ter maior poupança para financiar seus investimentos.
TAMBÉM seria importante um crescimento menos ambicioso, mas mais equilibrado, na nova administração federal a partir de 2011. Não pode continuar esse desequilíbrio entre a produção da indústria de transformação e o consumo das famílias, que conduz a um aumento das importações e contribui para o desequilíbrio das transações correntes, agravados pela infraestrutura antiquada que prejudica a capacidade de concorrência de nossa indústria em relação aos produtores estrangeiros.
E TALVEZ se possa concluir que caberia conter o crescimento da demanda no que ele tem de artificial (excessivo aumento do crédito por exemplo), para propiciar uma formação de poupança à altura das necessidades de investimentos.
AGORA, derrubar a inflação poderá ser o primeiro desafio econômico do próximo ano. Os aumentos ganharam força em Novembro e o Índice de Preços ao Consumidor Ampliado (IPCA), o indicador oficial do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), subiu 0,83%, na maior alta desde abril de 2005. Apesar disso, a decisão de aumentar os juros ficou para Janeiro, quando o Brasil já terá um novo governo e o Banco Central do Brasil (BC) estará sob nova direção, presidido pelo economista Alexandre Tombini. Em sua última reunião no governo Luiz Inácio da Silva (2003-10), o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC resolveu manter em 10,75% ao ano a Taxa Selic, a taxa básica da economia. Em nota distribuída na semana passada, logo depois da reunião, o Copom reconheceu a piora do cenário, mas alegou já haver tomado na semana anterior medidas para conter a expansão do crédito e do consumo.
TAIS medidas, segundo uma fonte do BC ouvida pela nossa reportagem, poderão produzir efeito semelhante a um aumento de juros de um ponto porcentual. Sem alarde, portanto, a autoridade monetária já terá tomado, antes da reunião do Copom, medidas bastante fortes para impor um freio aos preços.
APESAR disso, a nota não descarta a hipótese de novo aumento de juros, no começo do ano, se o cenário continuar desfavorável. O Copom voltará a reunir-se em 18 e 19 de Janeiro de 2011.
O PRIMEIRO dia da reunião, como sempre, será dedicado a um exame amplo da economia, com atenção especial às pressões inflacionárias. A decisão sobre os juros será tomada no dia seguinte. Não haverá aumento, se as pressões estiverem mais brandas e a meta de 4,5% parecer alcançável. Mas parece precipitado dar como certa essa melhora.
SEGUNDO os mais otimistas, até lá os preços dos alimentos poderão perder impulso e isso derrubará a inflação. Há um evidente ponto fraco nessa hipótese: o custo da alimentação, nesta altura, é apenas parte do problema, embora seja, sem dúvida, uma parte muito importante e sensível para grande maioria dos brasileiros.
ENTRE Outubro e Novembro últimos as pressões inflacionárias se tornaram mais espalhadas, como confirmou o indicador de difusão. A parcela dos itens com elevações de preços passou de 64,84% para 67,19%, segundo cálculo da Consultoria Macroeconômica Rosenberg & Associados.
OS NÚCLEOS, estimados com exclusão dos componentes considerados mais instáveis, também mostraram aceleração nos aumentos. Os especialistas trabalham com vários tipos de núcleos e todos confirmaram a tendência de aumentos mais fortes e generalizados.
E NO dia seguinte à reunião do Copom, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) divulgou seu Índice Geral de Preços de Dados Industriais (IGP-DI). A alta foi de 1,58%, bem maior que a do mês anterior (1,03%). Esse índice é formado por três grandes componentes: preços ao consumidor, preços ao produtor e custo da construção. O primeiro aumentou 1% em novembro. Em outubro havia subido 0,59%. As altas se intensificaram nas sete classes de despesas de consumo e não só no grupo dos alimentos.
ESTE quadro dos preços ao produtor é especialmente interessante e confirma a aceleração de aumentos de todos os grupos de preços. As cotações dos agropecuários subiram 4,13% em Outubro e 5,56% em Novembro. A elevação de preços dos bens industriais passou de 0,39% para 0,75%. Quando se tomam os bens finais com exclusão dos alimentos in natura e dos combustíveis, a tendência se torna mais clara: a variação mensal saltou de 1,21% em Outubro para 1,69% em Novembro.
TODOS esses dados apontam para os efeitos da demanda muito aquecida. O encarecimento dos produtos agropecuários pode ser explicado pela combinação de vários fatores - condições sazonais, piora da oferta nos mercados internacionais e especulação financeira nas bolsas de commodities. Mas a difusão dos aumentos seria bem menor, se os consumidores estivessem menos dispostos a gastar mais.
SEU otimismo tem sido sustentado pela multiplicação dos empregos, pela alta dos salários e também pela rápida expansão do crédito pessoal. O excesso da despesa pública é parte importante, naturalmente, desse quadro. Os entraves ao crédito anunciados pelo BC na semana passada poderão mudar esse quadro, mas a extensão do efeito ainda é desconhecida, Por isso ainda é muito provável um novo aumento dos juros em Janeiro de 2011.
DITO isso, é necessário destacar alguns pontos negativos da evolução do PIB no terceiro trimestre, tanto em relação ao trimestre anterior quanto ao mesmo trimestre do ano passado. Sob a ótica da produção, houve redução de 1,5% na agropecuária, de 1,65% na indústria de transformação e de 2,3% na construção civil. Em compensação, o setor de intermediação financeira cresceu 3,1% e o de comércio, 1,4%.
SOB ótica da demanda, tivemos uma elevação de 1,6% do consumo das famílias, ante 0,9% no segundo trimestre; de 3,95% na Formação Bruta de Capital Fixo - FBCF (investimentos), ante 4,3% no segundo trimestre; de 2,4% das exportações (consequência do preço das commodities), ante 0,1%; e de 7,4% das importações, ante 5,9%. Em relação ao mesmo trimestre do ano passado, as importações aumentaram 40,9%.
ESTE crescimento está desequilibrado. O consumo das famílias é positivo e o da indústria de transformação, negativo. A FBCF cresceu muito, chegando a 19,4% do PIB, ainda inferior à de 2008 (20,6% do PIB), enquanto a taxa de poupança ficou em 18,5% do PIB, o que leva a recorrer à importação e à poupança externa.
O CONSUMO na administração pública não cresceu no terceiro trimestre, em relação ao segundo, mas foi 4,1% maior do que no mesmo trimestre do ano passado, o que levou a necessidade de financiamento do setor público a R$ 24,1 bilhões, ante R$ 12 bilhões no terceiro trimestre de 2009. Isso mostra que o governo deveria ter maior poupança para financiar seus investimentos.
TAMBÉM seria importante um crescimento menos ambicioso, mas mais equilibrado, na nova administração federal a partir de 2011. Não pode continuar esse desequilíbrio entre a produção da indústria de transformação e o consumo das famílias, que conduz a um aumento das importações e contribui para o desequilíbrio das transações correntes, agravados pela infraestrutura antiquada que prejudica a capacidade de concorrência de nossa indústria em relação aos produtores estrangeiros.
E TALVEZ se possa concluir que caberia conter o crescimento da demanda no que ele tem de artificial (excessivo aumento do crédito por exemplo), para propiciar uma formação de poupança à altura das necessidades de investimentos.
AGORA, derrubar a inflação poderá ser o primeiro desafio econômico do próximo ano. Os aumentos ganharam força em Novembro e o Índice de Preços ao Consumidor Ampliado (IPCA), o indicador oficial do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), subiu 0,83%, na maior alta desde abril de 2005. Apesar disso, a decisão de aumentar os juros ficou para Janeiro, quando o Brasil já terá um novo governo e o Banco Central do Brasil (BC) estará sob nova direção, presidido pelo economista Alexandre Tombini. Em sua última reunião no governo Luiz Inácio da Silva (2003-10), o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC resolveu manter em 10,75% ao ano a Taxa Selic, a taxa básica da economia. Em nota distribuída na semana passada, logo depois da reunião, o Copom reconheceu a piora do cenário, mas alegou já haver tomado na semana anterior medidas para conter a expansão do crédito e do consumo.
TAIS medidas, segundo uma fonte do BC ouvida pela nossa reportagem, poderão produzir efeito semelhante a um aumento de juros de um ponto porcentual. Sem alarde, portanto, a autoridade monetária já terá tomado, antes da reunião do Copom, medidas bastante fortes para impor um freio aos preços.
APESAR disso, a nota não descarta a hipótese de novo aumento de juros, no começo do ano, se o cenário continuar desfavorável. O Copom voltará a reunir-se em 18 e 19 de Janeiro de 2011.
O PRIMEIRO dia da reunião, como sempre, será dedicado a um exame amplo da economia, com atenção especial às pressões inflacionárias. A decisão sobre os juros será tomada no dia seguinte. Não haverá aumento, se as pressões estiverem mais brandas e a meta de 4,5% parecer alcançável. Mas parece precipitado dar como certa essa melhora.
SEGUNDO os mais otimistas, até lá os preços dos alimentos poderão perder impulso e isso derrubará a inflação. Há um evidente ponto fraco nessa hipótese: o custo da alimentação, nesta altura, é apenas parte do problema, embora seja, sem dúvida, uma parte muito importante e sensível para grande maioria dos brasileiros.
ENTRE Outubro e Novembro últimos as pressões inflacionárias se tornaram mais espalhadas, como confirmou o indicador de difusão. A parcela dos itens com elevações de preços passou de 64,84% para 67,19%, segundo cálculo da Consultoria Macroeconômica Rosenberg & Associados.
OS NÚCLEOS, estimados com exclusão dos componentes considerados mais instáveis, também mostraram aceleração nos aumentos. Os especialistas trabalham com vários tipos de núcleos e todos confirmaram a tendência de aumentos mais fortes e generalizados.
E NO dia seguinte à reunião do Copom, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) divulgou seu Índice Geral de Preços de Dados Industriais (IGP-DI). A alta foi de 1,58%, bem maior que a do mês anterior (1,03%). Esse índice é formado por três grandes componentes: preços ao consumidor, preços ao produtor e custo da construção. O primeiro aumentou 1% em novembro. Em outubro havia subido 0,59%. As altas se intensificaram nas sete classes de despesas de consumo e não só no grupo dos alimentos.
ESTE quadro dos preços ao produtor é especialmente interessante e confirma a aceleração de aumentos de todos os grupos de preços. As cotações dos agropecuários subiram 4,13% em Outubro e 5,56% em Novembro. A elevação de preços dos bens industriais passou de 0,39% para 0,75%. Quando se tomam os bens finais com exclusão dos alimentos in natura e dos combustíveis, a tendência se torna mais clara: a variação mensal saltou de 1,21% em Outubro para 1,69% em Novembro.
TODOS esses dados apontam para os efeitos da demanda muito aquecida. O encarecimento dos produtos agropecuários pode ser explicado pela combinação de vários fatores - condições sazonais, piora da oferta nos mercados internacionais e especulação financeira nas bolsas de commodities. Mas a difusão dos aumentos seria bem menor, se os consumidores estivessem menos dispostos a gastar mais.
SEU otimismo tem sido sustentado pela multiplicação dos empregos, pela alta dos salários e também pela rápida expansão do crédito pessoal. O excesso da despesa pública é parte importante, naturalmente, desse quadro. Os entraves ao crédito anunciados pelo BC na semana passada poderão mudar esse quadro, mas a extensão do efeito ainda é desconhecida, Por isso ainda é muito provável um novo aumento dos juros em Janeiro de 2011.
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