Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

sábado, novembro 13, 2010

Um golpe no “Baú”

SÃO PAULO (SP) - O GRUPO Sílvio Santos (SS) pode vender o controle acionário do Banco Panamericano para arcar com parte do empréstimo de R$ 2,5 bilhões concedido à holding SS do empresário, e apresentador de televisão Señor Abravanel, popularmente conhecido como Sílvio Santos, pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC). A Instituição ainda não foi colocada à venda oficialmente, segundo fontes próximas à ao empresário carioca. Mas essa pode ser a primeira – e a mais rápida – solução para começar a arrecadar o dinheiro.

O BANCO Panamericano, na visão dos controladores do grupo, é um bom negócio. Seu problema era contábil. Com a capitalização na última Quarta-feira, 10, voltaria a atrair compradores. Sílvio Santos (ou Señor Abravanel) estaria disposto a se desfazer do negócio, segundo nossa reportagem apurou. Desde que o Banco Central do Brasil (BC) apurou a fraude contábil, há cinco semanas, o empresário e apresentador tem adotado uma postura bastante pragmática diante da situação. Todas as opções de venda de patrimônio estão sendo analisadas.

QUANDO uma participação minoritária foi vendida para a Caixa Econômica Federal (CEF), há exatamente um ano, o Banco Panamericano foi avaliado em cerca de R$ 2 bilhões. A venda do Panamericano provocaria um forte impacto em todo o Grupo SS, pois é, de longe, o negócio mais importante e rentável.

NO início de 2008, um executivo de um banco norte-americano procurou Sílvio Santos para fazer uma oferta pelo Panamericano. Foi recebido na casa do apresentador, que fica ao lado do escritório. Sílvio não quis vender e teria dito : "Trabalho todos os dias na televisão. Chego de manhã e saio tarde da noite. No fim do ano, a TV me rende, no máximo, R$ 40 milhões. Quanto ao banco, nunca fui lá. Mas todo ano me ele me rende até R$ 120 milhões. Não quero vender. E posso correr risco de até uns R$ 2 bilhões no banco". Na mesma conversa, o banqueiro norte-americano perguntou por que SS não vendia parte do controle do Sistema Brasileiro de Televisão S/A (SBT) para a rede de TV mexicana, Televisa. Sílvio Santos disse que havia tentado, mas não havia encontrado interessados.

EM 2009, o Grupo Sílvio Santos teve uma receita de R$ 4,7 bilhões e um prejuízo de R$ 8 milhões. O SBT é a terceira colocada no ranking das audiências médias da TV aberta, e também a empresa mais conhecida, mas não é mais importante do Grupo SS. Em 2009, o faturamento da emissora de TV foi de R$ 734,7 milhões e o lucro, de R$ 44 milhões. EM 2010, a previsão do mercado é que o SBT feche o seu balanço no negativo.

O GRUPO SS tem ainda outros negócios, como a empresa de cosméticos Jequiti, a empresa Sisan de empreendimentos imobiliários e a rede de varejo Lojas do Baú Crediário – em 2009, após meio século de operação, o Carnê do Baú foi encerrado e os serviços migraram para a rede de varejo.

A PESSOAS próximas, Sílvio Santos tem dito que está angustiado e que quer resolver a questão da dívida o mais rapidamente possível. O empresário e apresentador estuda soluções como venda de sua participação no SBT, segundo essas mesmas fontes.

A LIQUIDAÇÃO do Panamericano foi cogitada no mercado financeiro. Mas Sílvio Santos preferiu garantir o empréstimo na pessoa física a ver sua imagem manchada pelo episódio. Preste de completar 80 anos de idade (o aniversário do empresário e apresentador é no dia 12 de Dezembro) e uma das figuras mais populares do País, Sílvio Santos não ficou confortável em ter de ir para Brasília (DF) pedir socorro financeiro ao governo Luiz Inácio da Silva (2003-10). Além do rombo nas contas do Panamericano, SS teve de lidar também com um problema familiar. O Panamericano era comandado por um primo da sua mulher (dona Iris Abravanel), o empresário Rafael Palladino, que está no banco desde a sua criação e tem sido apontado no mercado financeiro como um dos responsáveis pela fraude contábil no Panamericano.

FORMADO em Educação Física, Palladino já trabalhou como personal trainer, foi professor efetivo na Universidade de São Paulo (USP) por 12 anos, gerenciou academias de ginástica e montou uma rede de postos de gasolina. Segundo entrevista dada à nossa reportagem anos atrás, Palladino foi convidado em 1990 por Sílvio Santos para fazer uma assessoria na área imobiliária e acabou contratado como prestador de serviços de uma das empresas do Grupo SS. Um ano depois, Palladino passou a atuar na área financeira do Grupo, sendo responsável pelo Banco Financeiro, que passou depois a se chamar Panamericano.

AGORA, procurado inúmeras ocasiões pela nossa reportagem, Palladino disse que está "tranquilo" e que "vai ter gente para apurar o que houve". Colocar familiares e parentes nas empresas do grupo era mais uma das idiossincrasias do empresário Señor Abravanel (Sílvio Santos). Isso sempre contribuiu para a construção da figura mítica de Sílvio Santos. Mas o que era apenas uma peculiaridade do apresentador e empresário agora pode ter provocado efeitos desastrosos.