Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

quarta-feira, novembro 03, 2010

É tudo deles!

RIO DE JANEIRO (RJ) - PASSADOS quatro longos anos após as primeiras evidências levantadas pelo Ministério Público (MP) do Estado de São Paulo sobre graves irregularidades na Cooperativa Habitacional do Sindicato dos Bancários de São Paulo (Bancoop), o promotor José Carlos Blat denunciou à Justiça, semana passada, o atual tesoureiro do Partido dos Trabalhadores (PT), João Vaccari Neto (PT-SP), e cinco outros possíveis envolvidos. Vaccari presidiu a entidade entre 2005 e 2010, depois de participar de sua diretoria desde a sua fundação - por Ricardo Berzoini (PT-SP), ex-presidente nacional do PT -, em 1996. Blat pediu abertura de processo criminal contra o petista por formação de quadrilha, estelionato, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro.

DOS principais escândalos que enlaçam companheiros do vosso presidente da República, Luiz Inácio da Silva (PT-SP), é o segundo a chegar ao Judiciário. O primeiro foi o do Mensalão, que tramita a passos lentos no Supremo Tribunal Federal (STF). Outros mais recentes ou descobertos há pouco - a quebra do sigilo fiscal de aliados e familiares do candidato oposicionista derrotado na eleição presidencial deste ano, José Serra (PSDB-SP) e as traficâncias da família da então ministra Erenice Guerra (PT-SP), a sucessora da hoje presidente eleita, Dilma Rousseff (PT-RS), na Casa Civil da Presidência da República - estão em fase de investigação ou sindicância. Pelo que parece ter sido apurado há suficiente material para levar os casos aos tribunais. O conjunto da obra retrata os padrões de atuação da máfia que se guia pela mentalidade do "é tudo nosso" - ou seja, do PT.

DESSES múltiplos delitos, o delito maior cometido na Bancoop foi o que fez mais vítimas diretamente - os 3 mil cooperados que caíram no conto da casa própria a preços 40% inferiores aos do mercado e mais 5 mil que não conseguem quitação ou escritura. Eles compraram na planta e foram pagando a prestações imóveis que jamais lhes seriam entregues, ou foram entregues sem condições de serem ocupados ou revendidos. Dos 55 empreendimentos oferecidos pela cooperativa, apenas 14 foram concluídos. Dezoito nem saíram do papel. Mas o dinheiro entrou. Os dirigentes da Bancoop, a começar de Vaccari, são acusados de deixar um rombo de R$ 168 milhões nas contas da entidade. "Uma parte foi para o PT", sustenta Blat.

ASSIM como o então procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, chamou a turma do Mensalão de "sofisticada organização criminosa", o seu colega paulista concluiu que "a quadrilha que se estabeleceu na direção da Bancoop contava com sofisticada manipulação de dados dos balanços contábeis". Empresas fantasmas, por exemplo, teriam sido criadas para transferir dinheiro da cooperativa - sugado dos incautos mutuários - para bolsos pessoais e campanhas eleitorais petistas. No que deve ser a ponta de um iceberg, Blat identificou um repasse de R$ 200 mil para o PT. Provavelmente não se chegará a saber o total, parte dele provindo de saques em dinheiro na boca do caixa, somando R$ 31 milhões.

ESSE escândalo da Bancoop voltou à tona enquanto surgiam novas informações sobre a tentativa de montagem de um dossiê contra José Serra - para o que se destinariam, afinal, as cópias das declarações de renda extraídas do Fisco - e o alcance das movimentações do grupo de Erenice Guerra no âmbito do governo. Segundo a reportagem do Jornal Folha de S.Paulo, o Departamento de Polícia Federal (DPF) apurou que um jornalista ligado à pré-campanha eleitoral de Rousseff, Amaury Ribeiro Júnior, encomendou a um despachante, por R$ 12 mil, a compra de dados sigilosos de parentes de Serra e membros do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). O PT custeava a hospedagem do jornalista em Brasília (DF). Fim da fábula de que ele servia a correligionários rivais de Serra no PSDB.

JÁ a sindicância do governo sobre o grupo de Israel Guerra, filho da ex-ministra Erenice Guerra, parece ter feito algum progresso. Verificou-se que a patota de Israel usou também funcionários e equipamentos da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) e do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), ambos da Presidência da República, em suas operações de lobby. Um novo nome suspeito de envolvimento com o esquema é o nome do assessor da Casa Civil, Gabriel Laender. Procurador de Justiça no Espírito Santo, advogara para a empresa da qual o marido de Erenice era diretor. No ano passado, passou a trabalhar no governo. Quem o nomeou foi a então ministra, e hoje presidente eleita, Dilma Rousseff.