Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

sábado, julho 17, 2010

O direito de matar

Los Angeles (EUA) - OS LUNÁTICOS, os terroristas, os seriais killeres e os inimigos da ordem pública de toda espécie devem estar vibrando com a decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos da América (EUA) que considerou inconstitucional o controle de armas pelo Estado. Trocando em miúdos, armai-vos uns aos outros e continuem se matando indiscriminadamente.

ESTA é a velha e obsessiva cultura norte-americana que é capaz de dar um passo à frente quanto elege um negro para a presidência da República e retroceder dois quando sua Corte superior adota uma medida retrógrada como essa.

ESSA decisão da Suprema Corte Norte-Americana foi eminentemente política. De um lado, os cinco juízes conservadores votando pela liberação do porte de armas, uma reivindicação da Smith & Wesson, da ala mais radical do Partido Republicano e de remanescentes da seita racista Ku Klux Klan. De outro, os quatro mais progressistas, inclusive Sonia Sotomayor, recentemente nomeada pelo presidente da República, Barack Houssein Obama, votando pelo controle de armas, na prática uma tentativa de desarmamento da população civil.

OS MAGISTRADOS se basearam em um dispositivo legal arcaico e em completo desacordo com a realidade atual deste país, a Segunda Emenda, introduzida da Constituição dos EUA, em 1791, que estabelece: “sendo necessária à segurança de um Estado livre uma milícia bem organizada, o direito do povo de possuir e usar armas não poderá ser impedido”.

BEM, falar em “milícia bem organizada” nos dias atuais é regredir aos tempos do faroeste norte-americano, uma época abundantemente retratada sob a áurea romântica nos filmes de Hollywood, quando as platéias de todo mundo prestigiavam os filmes de mocinho e bandido, com o xerife que defendia a incipiente cidade dos assaltos a bancos e diligências, e com os duelos ao sol em que os cidadãos resolviam suas diferenças pessoais à bala, na falta de um sistema judicial organizado.

AQUI a questão que se coloca é: armas para se defender ou para matar inocentes? A Suprema Corte certamente não levou em conta a trágica estatística dos massacres que crescem a cada ano neste país. E não resta dúvida que muitos poderiam ser evitados não fosse a facilidade que as pessoas encontram para adquirir armas.

PRA refrescar a memória de alguns desavisados; em 2007, na universidade de Virginia Tech, um estudante de origem sul-coreana de 23 anos promoveu um banho de sangue no campus universitário. Trinta e dois mortos atingidos por balas de mais de uma arma, todas adquiridas facilmente em uma loja especializada em uma cidade vizinha.

JÁ EM Abril de 2009, o professor universitário pernambucano Almir Olimpio Alves, de 43 anos, foi uma das treze vítimas de um massacre praticado por um vietnamita que frequentava o mesmo curso de inglês para imigrantes, em uma cidade do Estado de Nova Iorque. O vietnamita, que se sentia humilhado diante dos colegas porque não conseguia desenvolver o aprendizado da língua, invadiu a sala com duas armas e disparou a esmo.

SÃO algumas das tragédias que poderiam ser evitadas não fosse a facilidade com que as pessoas se armam neste país que tem uma poderosa indústria de armamentos – e um poderoso lobby no Parlamento - que precisa desovar seus produtos, não importa a que preço.

UMA vitória para associações que existem em vários pontos dos EUA – algumas de caráter extremista - que defendem o direito do cidadão possuir e portar armas. Uma delas, a mais famosa, a Associação Nacional do Rifle (NRA), liderada durante muitos anos pelo saudoso ator Charlton Heston, o insuperável interprete de Ben-Hur no Cinema.