Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

quarta-feira, agosto 05, 2009

Deixou de piorar

CONSERVATÓRIA (RJ) - PARA a surpresa de analistas e consultorias econômicas, caiu de 8,8%, em Maio, para 8,1%, em Junho, a taxa de desocupação apurada na Pesquisa Mensal de Emprego (PME), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referente às seis maiores regiões metropolitanas do País. É um porcentual próximo dos 7,9% registrados em Junho de 2008 e o melhor resultado mensal de 2009. Mas, se a queda do desemprego refletiu alguma melhora no mercado de trabalho, ela também foi resultado da menor disposição das pessoas de procurar empregos, ou seja, do chamado "efeito desalento".

SOMENTE em parte, portanto, a PME permite reduzir as apreensões quanto aos custos do desemprego para o País. Entre Janeiro e Junho, os desembolsos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) com o seguro-desemprego foram os maiores desde 2003 e 41% superiores aos do mesmo período de 2008. Somados os efeitos da crise, do aumento do número de parcelas pagas a algumas categorias de trabalhadores e da majoração do salário mínimo, de R$ 415,00 para R$ 465,00, o seguro-desemprego consumiu R$ 9,9 bilhões do FAT, pagos a 4,1 milhões de pessoas.

A PME mostrou um número de desocupados da ordem de 1,9 milhão de trabalhadores, em Junho, queda de 8,3% em relação a Maio e estável em relação a Junho de 2008. Foram semelhantes os dados relativos à população ocupada, que cresceu 0,8% sobre Maio (ou 0,16%, com correção sazonal) e ficou igual à do mesmo mês de 2008, em 21,1 milhões de trabalhadores. Mas a população economicamente ativa (PEA, hoje de 23 milhões de pessoas, que são os empregados ou aqueles que procuram emprego) ainda é inferior à de Outubro do ano passado, de 23,3 milhões. "Esse resultado revela o pior tipo de desemprego, o oculto pela desesperança de procurar emprego", resumiu o professor da FEA-USP, Hélio Zylberstajn.

ENTRE as reações moderadamente otimistas, o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Gonçalves, notou que a redução do desemprego indica que o mercado "deixou de piorar" - o banco projetava para Junho taxa de desocupação de 8,8%, porcentual idêntico ao previsto por outra consultoria, a LCA. Entre as avaliações positivas, o gerente da pesquisa do IBGE, Cimar Azeredo, disse que "foi o primeiro momento em que o mercado de trabalho começou a tomar fôlego, após o início da crise".

NA indústria, aumentou em 58 mil o número de trabalhadores ocupados (+1,7%), entre Maio e Junho, mas, na comparação com Junho de 2008, a situação ainda é desfavorável (queda de 5%, equivalente a 183 mil vagas). A situação do emprego chegou a ser pior, em maio, por isso o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) ressalta, agora, a melhora, "uma das mais importantes novidades dos números do IBGE", pois interrompe a série de dados negativos iniciada em dezembro do ano passado.

A MASSA salarial real mostrou sinais de desaceleração - em 12 meses, cresceu 3,3%, em Maio de 2009, e 2,9%, em Junho, a menor taxa em 48 meses. Segundo técnicos do IBGE, o rendimento médio habitualmente recebido pelos trabalhadores passou de R$ 1.274,47, em Junho de 2008, para R$ 1.312,30, no mês de Junho passado. Na média do primeiro semestre, a massa de rendimento real habitual ainda é 5,1% superior à do mesmo período do ano passado. Mas, como notou Azeredo, o aumento do rendimento médio real na indústria indica que "as demissões estão ocorrendo no chão da fábrica".

Os dados são positivamente influenciados pelo aumento do número de horas extras, que antecede as contratações, e pelo comportamento do emprego na construção civil e, negativamente, pelo comércio. O setor de serviços puxou o emprego para cima, sobretudo na administração pública, na saúde e na educação.

As projeções das consultorias para o segundo semestre indicam que o nível de desocupação poderá subir novamente, alcançando entre 8,5% e 9%, em decorrência do aumento do número de pessoas que procuram emprego. Até agora, ocorreu o contrário: em junho, aumentou em 105 mil o número dos que nem tinham trabalho nem procuravam emprego (+0,6% em relação a maio), segundo o IBGE. De qualquer forma, não se justifica o otimismo do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, ao afirmar, à luz dos dados da PME, que a crise econômica foi superada e que o nível de desemprego cairá, a partir de agora.