Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

sábado, agosto 01, 2009

O sucessor nos dirá a que veio

RIO DE JANEIRO – A REDUÇÃO de 0,5 ponto porcentual na taxa Selic, pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil (BC) em Julho, esteve dentro do que previa o mercado. É a quinta redução consecutiva da taxa Selic. Resta saber se ela encontrou seu piso e por quanto tempo se pode esperar que esse valor será mantido.

A FUNÇÃO da taxa Selic é orientar as taxas de juros de curto prazo. Não tem efeito imediato e as autoridades monetárias chegaram, recentemente, à conclusão de que afeta o custo efetivo do dinheiro um ano depois, e não em seis meses, como se pensava até agora. A reação das entidades de classe, considerando a taxa Selic muito alta ainda, pode não se justificar em vista da demora dos seus efeitos sobre os juros efetivamente praticados. Já há uma redução desses juros, embora não reproduza plenamente a queda da taxa Selic - não tanto pelo fato de a taxa básica ser ainda muito elevada, mas sim porque o Brasil é o campeão da diferença entre os juros bancários e a taxa Selic.

O TESOURO Nacional (TN) continua sendo o maior beneficiário da redução da taxa Selic, que reduz imediatamente o custo da dívida mobiliária.

EM NOSSAS análises econômicas não podemos menosprezar o efeito da redução da taxa Selic sobre as aplicações financeiras, com a rentabilidade da caderneta de poupança, em muito casos, superando a de outras aplicações em renda fixa, o que pode criar dificuldades para os bancos que precisam dessas últimas.

MAS será que o patamar atual da taxa Selic se constitui em piso duradouro? O comunicado final da reunião do Copom suprimiu a referência - do comunicado de 10 de Junho - a uma flexibilização mais parcimoniosa da política monetária, preferindo destacar a trajetória da inflação e, fato novo, a recuperação não inflacionária da atividade econômica. Somente uma queda maior da inflação e um agravamento da conjuntura econômica, ao que parece, deveriam levar a uma nova redução da taxa Selic.

ENTRETANTO, o ano de 2010 será um ano eleitoral e começará com uma situação fiscal muito comprometida, suscetível de provocar uma retomada da inflação. O mercado futuro de juros reagiu à observação do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, reduzindo os juros de curto prazo, mas aumentando as taxas de longo prazo. Será difícil aumentar a taxa num ano eleitoral, e se Henrique Meirelles for candidato ao governo do Estado de Goiás, deverá ser substituído em Abril próximo: a escolha do seu sucessor dará uma pista para saber se a linha ortodoxa continuará ou se aceitará uma volta da inflação sem o remédio da política monetária.