Vida extirpada
O FILME "Jean Charles", do diretor brasileiro radicado na Inglaterra, Henrique Goldman, chegou aos cinemas brasileiros procurando repercussão. A produção foi lançada comercialmente na Sexta-feira, 26, distribuído em salas de Cinema de todo o País, em 153 cópias, um volume que comprova a busca do grande público, apoiando-se também na presença do excelente ator Selton Mello (TV GLOBO), como protagonista da história.
NUMA CO-PRODUÇÃO anglo-brasileira (TELECINE PRODUCTIONS/GLOBOSAT & GLOBOFILMES), o filme procura revelar a identidade do eletricista brasileiro Jean Charles de Menezes (1978-2005) morto pela polícia inglesa em 2005 - um dos mais espantosos erros policiais da história da Grã-Bretanha.
CONFUDIDO com um terrorista, ao final de uma desastrada operação, o jovem eletricista mineiro de 27 anos, radicado em Londres havia três anos, foi executado com oito tiros - sete deles, na cabeça - na estação de Stockwell, no metrô londrino.
TEMPOS depois, comprovou-se que não tinha nenhum vínculo criminoso, ou tivera qualquer comportamento suspeito, como as autoridades britânicas a princípio alegaram, mas foram desmentidas em posteriores investigações.
EXISTE indiscutível fundo político, portanto, por trás do "Jean Charles", que sublinha o clima de histeria vivido em Londres em Julho de 2005 após dois atentados no metrô, com vários mortos e feridos. Mas o foco está, inegavelmente, na figura humana de seu personagem.
ESTÁ claro que o filme não procura uma fidelidade documental absoluta à biografia de Jean Charles - embora procure verossimilhança. O roteiro, assinado pelo diretor do filme, Henrique Goldman, e o jornalista Marcelo Starobinas, cria incidentes ficcionais a partir dos reais. Nem tudo o que se vê na tela é, portanto, a vida de Jean Charles como ela foi, mas tudo que se vê busca coerência com ela.
A ATUACAO do ator Selton Mello confere uma veracidade inegável a esse brasileiro, símbolo de tantos outros, personagens de uma diáspora recente pelo mundo, em Londres em particular.
ESTIMA-SE que cerca de 200.000 brasileiros vivam na Inglaterra, a maioria deles na capital inglesa. Muitos são ilegais, sobrevivendo de todo tipo de trabalho, em busca de um sucesso financeiro e profissional. Por isso, não é raro, para quem anda num ônibus londrino qualquer, ouvir o som de diálogos em português - com sotaques baiano, mineiro, carioca, paulista, pernambucano, Paraíba, capixaba ou gaucho.
O MELHOR do filme está nesse retrato de uma comunidade brasileira exilada, mas que continua ligada na própria língua, na culinária, na televisão nacional (que assiste via cabo), nos artistas. Neste contexto, é particularmente saborosa a participação do cantor cigano Sidney Magal num show para a colônia brasileira londrina. O show evoca, aliás, um incidente real na vida de Jean Charles, mas que envolvia outro cantor, o sambista carioca Zeca Pagodinho.
O GRANDE desafio do filme é que seu herói está condenado à morte e todos sabem disso antes de a primeira imagem atingir a tela. A saída encontrada por Goldman está em deslocar parte do protagonismo da história para outra personagem, a prima de Jean Charles, Vivian - em outra ótima interpretação da bela e jovem atriz Vanessa Giacomo (TV GLOBO). Vivian divide com ele as lutas, as decepções, os sonhos. E cabe a ela levar ou não adiante um dos projetos que Jean Charles deixa pelo caminho.
OUTRO destaque no elenco é o ator Luís Miranda, que interpreta com profunda humanidade outro primo de Jean Charles, Alex - uma pessoa real e entrevistado para a composição do papel. A verdadeira prima do protagonista, Patrícia Armani, aparece em cena em seu próprio papel. No elenco, há uma pequena participação do jovem e talentoso ator mineiro Daniel de Oliveira (TV GLOBO, marido da atriz Vanessa Giacomo.
COM produção executiva do cineasta Stephen Frears ("A Rainha") e de Rebecca O'Brien (produtora de nove filmes do cineasta inglês Ken Loach, como "Ventos da Liberdade") o filme recoloca em discussão o caso de Jean Charles, cuja morte ainda é objeto de ações judiciais por parte de sua família.
QUEM quiser conhecer ou lembrar a inacreditável série de trágicos enganos cometidos por várias unidades policiais inglesas, conduzindo à execução do brasileiro, ainda, pode consultar o rigoroso livro "Em Nome de Sua Majestade", de Ivan Sant'Anna.
NUMA CO-PRODUÇÃO anglo-brasileira (TELECINE PRODUCTIONS/GLOBOSAT & GLOBOFILMES), o filme procura revelar a identidade do eletricista brasileiro Jean Charles de Menezes (1978-2005) morto pela polícia inglesa em 2005 - um dos mais espantosos erros policiais da história da Grã-Bretanha.
CONFUDIDO com um terrorista, ao final de uma desastrada operação, o jovem eletricista mineiro de 27 anos, radicado em Londres havia três anos, foi executado com oito tiros - sete deles, na cabeça - na estação de Stockwell, no metrô londrino.
TEMPOS depois, comprovou-se que não tinha nenhum vínculo criminoso, ou tivera qualquer comportamento suspeito, como as autoridades britânicas a princípio alegaram, mas foram desmentidas em posteriores investigações.
EXISTE indiscutível fundo político, portanto, por trás do "Jean Charles", que sublinha o clima de histeria vivido em Londres em Julho de 2005 após dois atentados no metrô, com vários mortos e feridos. Mas o foco está, inegavelmente, na figura humana de seu personagem.
ESTÁ claro que o filme não procura uma fidelidade documental absoluta à biografia de Jean Charles - embora procure verossimilhança. O roteiro, assinado pelo diretor do filme, Henrique Goldman, e o jornalista Marcelo Starobinas, cria incidentes ficcionais a partir dos reais. Nem tudo o que se vê na tela é, portanto, a vida de Jean Charles como ela foi, mas tudo que se vê busca coerência com ela.
A ATUACAO do ator Selton Mello confere uma veracidade inegável a esse brasileiro, símbolo de tantos outros, personagens de uma diáspora recente pelo mundo, em Londres em particular.
ESTIMA-SE que cerca de 200.000 brasileiros vivam na Inglaterra, a maioria deles na capital inglesa. Muitos são ilegais, sobrevivendo de todo tipo de trabalho, em busca de um sucesso financeiro e profissional. Por isso, não é raro, para quem anda num ônibus londrino qualquer, ouvir o som de diálogos em português - com sotaques baiano, mineiro, carioca, paulista, pernambucano, Paraíba, capixaba ou gaucho.
O MELHOR do filme está nesse retrato de uma comunidade brasileira exilada, mas que continua ligada na própria língua, na culinária, na televisão nacional (que assiste via cabo), nos artistas. Neste contexto, é particularmente saborosa a participação do cantor cigano Sidney Magal num show para a colônia brasileira londrina. O show evoca, aliás, um incidente real na vida de Jean Charles, mas que envolvia outro cantor, o sambista carioca Zeca Pagodinho.
O GRANDE desafio do filme é que seu herói está condenado à morte e todos sabem disso antes de a primeira imagem atingir a tela. A saída encontrada por Goldman está em deslocar parte do protagonismo da história para outra personagem, a prima de Jean Charles, Vivian - em outra ótima interpretação da bela e jovem atriz Vanessa Giacomo (TV GLOBO). Vivian divide com ele as lutas, as decepções, os sonhos. E cabe a ela levar ou não adiante um dos projetos que Jean Charles deixa pelo caminho.
OUTRO destaque no elenco é o ator Luís Miranda, que interpreta com profunda humanidade outro primo de Jean Charles, Alex - uma pessoa real e entrevistado para a composição do papel. A verdadeira prima do protagonista, Patrícia Armani, aparece em cena em seu próprio papel. No elenco, há uma pequena participação do jovem e talentoso ator mineiro Daniel de Oliveira (TV GLOBO, marido da atriz Vanessa Giacomo.
COM produção executiva do cineasta Stephen Frears ("A Rainha") e de Rebecca O'Brien (produtora de nove filmes do cineasta inglês Ken Loach, como "Ventos da Liberdade") o filme recoloca em discussão o caso de Jean Charles, cuja morte ainda é objeto de ações judiciais por parte de sua família.
QUEM quiser conhecer ou lembrar a inacreditável série de trágicos enganos cometidos por várias unidades policiais inglesas, conduzindo à execução do brasileiro, ainda, pode consultar o rigoroso livro "Em Nome de Sua Majestade", de Ivan Sant'Anna.
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