A beira da extrema-unção
NESTE grande e bobo País ao Sul do Equador, a Oposição fracassou consistentemente na sua função institucional de apresentar-se para a maioria do eleitorado como alternativa ao lullismo. Em 2006, quando o Mensalão empreendido pelo delubiovalerioduto empreendido pelo petismo sob a guarda do, então, comissário todo-poderoso, José Dirceu (PT-SP), deixara a descoberto o, então, presidente da República, Luiz Inácio da Silva, em busca do segundo mandato presidencial, o candidato da coligação PSDB-DEM, e atual governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB-SP), conseguiu o feito sem precedentes de sair do segundo turno com menos votos do que no primeiro. Em 2010, tendo como adversária uma apadrinhada de Luiz Inácio da Silva que nunca antes tinha participado de uma eleição, a campanha errática do ex-governador do Estado de São Paulo, José Serra (PSDB-SP), incluiu mostrá-lo ao lado do, então, presidente da República, no horário eleitoral, apelar para o fundamentalismo religioso e, em desespero de causa, sacar uma demagógica promessa de elevar o salário mínimo a R$ 600.
O VAZIO oposicionista e o êxito de Luiz Inácio da Silva na armação de aliança de 17 partidos em torno do nome de Dilma Wana Rousseff produziram mais do que a vitória da ex-ministra-chefe da Casa Civil da Presidência da República (2005-10). As urnas a premiaram com a maior base política já vista no Congresso Nacional: 388 cadeiras em 513 na Câmara dos Deputados e 63 em 81 no Senado Federal. Além disso, nestes seus quase dois meses de governo, a presidente da República, Dilma Rousseff, nada fez que a Oposição pudesse ou soubesse capitalizar em proveito próprio perante a sociedade. E agora, enquanto se perpetua a sua incapacidade de dizer qualquer coisa que o País deva ouvir, uma parcela do Democratas (DEM), movida pelo que há de mais raso na política - a ambição pessoal nua e crua - busca uma via torta para o adesismo.
AFLITO com o que será dele em 2014, o prefeito municipal de São Paulo (SP), Gilberto Kassab (DEM-SP), vem há tempos tentando se safar dos efeitos da hegemonia do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) no Estado de São Paulo - a mencionada hipótese de os peessedebistas abrirem mão de indicar um dos seus quadros para a futura disputa pelo governo do Estado de São Paulo é um engodo. Rejeitada pela cúpula demista a sua ideia de fundir o partido com o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), Kassab quis migrar para a sigla comandada em São Paulo pelo vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB-SP), mas novamente ouviu um não. Não perderá nada, aliás: o PMDB está morto em São Paulo, com um deputado federal e quatro deputados estaduais. Eis que, conversa daqui, conchava dali, encontrou um ombro amigo na figura do governador do Estado de Pernambuco e presidente nacional do Partido Socialista Brasileiro (PSB), Eduardo Campos (PSB-PE). Com 34 deputados federais e 3 senadores da República, o PSB, fundado pelo finado avô de Campos, Miguel Arraes, pensa grande.
PARA o PSB ser mais do que linha auxiliar do governo, Campos quer abri-la a todos quantos se sintam desconfortáveis onde se encontram. Dispensam-se afinidades ideológicas. A agremiação, que de socialista só conserva o nome e o programa datado de 1947, não viu problema algum, por exemplo, em ter como candidato ao governo paulista em 2010 o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), Paulo Skaf (PSB-SP). Mas os rigores das normas sobre infidelidade partidária não permitem que os descontentes simplesmente vistam a descolorida camiseta peessebista. O que se permite é o abandono da legenda para formar uma nova - e a fusão desta com outra agremiação qualquer.
ENTÃO, ficaria assim, pois: os “Kassabs” do País inteiro se mudariam para uma habitação denominada Partido da Democracia Brasileira (PDB) e esta se fundiria com o PSB. Campos calcula que a jogada acrescentaria 20 nomes à sua bancada federal, convertendo-a na terceira força na Câmara (depois do PT e do PMDB). Mas nem todos os vira-casacas em potencial usariam o PDB como escala técnica para o PSB. Na expectativa de que a reforma política em cozimento a fogo brando no Congresso Nacional abra uma janela de oportunidade para o troca-troca - a infidelidade seria autorizada durante um período a cada quatro anos -, não faltará quem prefira bandear-se para o velho e acolhedor PMDB ou para outro partido da base governista, onde os espaços eleitorais sejam maiores.
SINAL dos tempos, os planos de abandono do barco oposicionista começaram pelos passageiros mais exaltados. "A Oposição está na UTI", diz a senadora da República, Kátia Abreu (DEM-TO), presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Se assim é, o DEM está à beira da extrema-unção. Os seus melhores nomes, como o do ex-vice-presidente da República e ex-senador pernambucano Marco Maciel (DEM-PE), estão praticamente aposentados, sem deixar sucessores à altura. Os muito vivos se preparam para mudar não de legenda, mas de campo. Se o Partido Popular (PP), outro descendente da antiga Arena do regime militar, pôde unir-se ao governo petista, por que não eles?
O VAZIO oposicionista e o êxito de Luiz Inácio da Silva na armação de aliança de 17 partidos em torno do nome de Dilma Wana Rousseff produziram mais do que a vitória da ex-ministra-chefe da Casa Civil da Presidência da República (2005-10). As urnas a premiaram com a maior base política já vista no Congresso Nacional: 388 cadeiras em 513 na Câmara dos Deputados e 63 em 81 no Senado Federal. Além disso, nestes seus quase dois meses de governo, a presidente da República, Dilma Rousseff, nada fez que a Oposição pudesse ou soubesse capitalizar em proveito próprio perante a sociedade. E agora, enquanto se perpetua a sua incapacidade de dizer qualquer coisa que o País deva ouvir, uma parcela do Democratas (DEM), movida pelo que há de mais raso na política - a ambição pessoal nua e crua - busca uma via torta para o adesismo.
AFLITO com o que será dele em 2014, o prefeito municipal de São Paulo (SP), Gilberto Kassab (DEM-SP), vem há tempos tentando se safar dos efeitos da hegemonia do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) no Estado de São Paulo - a mencionada hipótese de os peessedebistas abrirem mão de indicar um dos seus quadros para a futura disputa pelo governo do Estado de São Paulo é um engodo. Rejeitada pela cúpula demista a sua ideia de fundir o partido com o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), Kassab quis migrar para a sigla comandada em São Paulo pelo vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB-SP), mas novamente ouviu um não. Não perderá nada, aliás: o PMDB está morto em São Paulo, com um deputado federal e quatro deputados estaduais. Eis que, conversa daqui, conchava dali, encontrou um ombro amigo na figura do governador do Estado de Pernambuco e presidente nacional do Partido Socialista Brasileiro (PSB), Eduardo Campos (PSB-PE). Com 34 deputados federais e 3 senadores da República, o PSB, fundado pelo finado avô de Campos, Miguel Arraes, pensa grande.
PARA o PSB ser mais do que linha auxiliar do governo, Campos quer abri-la a todos quantos se sintam desconfortáveis onde se encontram. Dispensam-se afinidades ideológicas. A agremiação, que de socialista só conserva o nome e o programa datado de 1947, não viu problema algum, por exemplo, em ter como candidato ao governo paulista em 2010 o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), Paulo Skaf (PSB-SP). Mas os rigores das normas sobre infidelidade partidária não permitem que os descontentes simplesmente vistam a descolorida camiseta peessebista. O que se permite é o abandono da legenda para formar uma nova - e a fusão desta com outra agremiação qualquer.
ENTÃO, ficaria assim, pois: os “Kassabs” do País inteiro se mudariam para uma habitação denominada Partido da Democracia Brasileira (PDB) e esta se fundiria com o PSB. Campos calcula que a jogada acrescentaria 20 nomes à sua bancada federal, convertendo-a na terceira força na Câmara (depois do PT e do PMDB). Mas nem todos os vira-casacas em potencial usariam o PDB como escala técnica para o PSB. Na expectativa de que a reforma política em cozimento a fogo brando no Congresso Nacional abra uma janela de oportunidade para o troca-troca - a infidelidade seria autorizada durante um período a cada quatro anos -, não faltará quem prefira bandear-se para o velho e acolhedor PMDB ou para outro partido da base governista, onde os espaços eleitorais sejam maiores.
SINAL dos tempos, os planos de abandono do barco oposicionista começaram pelos passageiros mais exaltados. "A Oposição está na UTI", diz a senadora da República, Kátia Abreu (DEM-TO), presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Se assim é, o DEM está à beira da extrema-unção. Os seus melhores nomes, como o do ex-vice-presidente da República e ex-senador pernambucano Marco Maciel (DEM-PE), estão praticamente aposentados, sem deixar sucessores à altura. Os muito vivos se preparam para mudar não de legenda, mas de campo. Se o Partido Popular (PP), outro descendente da antiga Arena do regime militar, pôde unir-se ao governo petista, por que não eles?
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