Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

quarta-feira, novembro 17, 2010

Fatura extraordinária

OS RESULTADOS das contas fiscais divulgados esses dias não constituíram surpresa, pois já se sabia que a injeção de R$ 31,9 bilhões na caixa do Tesouro Nacional (TN), em decorrência da manipulação do processo de capitalização da Companhia Petróleo do Brasil (Petrobrás S/A), mudaria substancialmente as contas públicas.

DE FATO, o déficit nominal de R$ 9,1 bilhões do governo central transforma-se em superávit de R$ 16,2 bilhões em setembro, o maior registrado desde que se publicam esses dados. O mesmo ocorre com o superávit primário, que, de R$ 3,4 bilhões, em agosto, sobe para R$ 25,5 bilhões, no mês seguinte.

SE NÃO fosse essa manipulação, o resultado primário de todo o setor público teria sido de cerca de apenas R$ 4 bilhões...

NÃO cabe dar muita atenção às contas do governo federal, a não ser para assinalar que o déficit primário das contas do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) sobe de R$ 5,4 bilhões, em Agosto, para R$ 9,1 bilhões, em Setembro, refletindo o pagamento de metade do 13.º salário dos aposentados e pensionistas. O déficit nominal dos Estados cresce 215,3% e o déficit nominal dos Municípios, 71,5%, permitindo imaginar o que teria sido o déficit nominal do governo federal na fase da campanha eleitoral.

OS JUROS nominais pagos pelo setor público são sensivelmente iguais ao do mês anterior, embora acusem uma queda de R$ 3,195 bilhões no caso do governo central, que utilizou uma pequena parcela da sua estranha operação contábil para pagar seus juros.

DIANTE do resultado das contas públicas, a questão principal é saber se essa manipulação contábil vai permitir atingir o superávit primário equivalente a 3,3% do Produto Interno Bruto (PIB). Nos nove primeiros meses do ano ele chegou a R$ 75,5 bilhões, equivalente a 2,20% do PIB. EM 2009, nos três últimos meses, o crescimento do superávit primário foi de R$ 8,9 bilhões. O resultado obtido até agora representa 64% da meta (cerca de R$ 118 bilhões). Porém, não podemos esquecer de que no quarto trimestre o truque de setembro não se poderá repetir, que o governo está engajado num programa de investimentos muito maior do que no ano passado e que os gastos do INSS serão maiores do que em 2009.

DIFICILMENTE a meta plena do superávit primário será atingida, e podemos imaginar que o governo recorrerá à sua inventiva capacidade contábil para chegar ao resultado estabelecido pela Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).

NOS cumpre assinalar que, apesar da "receita extraordinária", a dívida bruta do governo central (R$ 2,057 trilhões) cresceu em razão das operações compromissadas do Banco Central do Brasil (BC).