Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

segunda-feira, junho 28, 2010

O setor de imóveis requer atenção especial

TERESÓPOLIS (RJ) - AQUELA crise dos créditos subprime que eclodiu em 2008, nos Estados Unidos da América (EUA) contaminando toda a economia mundial, mostrou como é necessário acompanhar com muita atenção o setor da construção civil, que trabalha com empréstimos de longo prazo. O Brasil não se encontra na mesma situação dos EUA dois anos atrás: os financiamentos são feitos a uma taxa fixa - com exceção dos hipotecários - e a parte variável é a Taxa Referencial (TR), cuja flutuação é insignificante. Isso não quer dizer que o setor está ao abrigo de qualquer crise.

O PREÇO de imóveis novos teve alta de 43% em um ano, em total desproporção com a alta da inflação. Em primeiro lugar, por causa da forte demanda que permitiu alta especulativa do preço dos materiais de construção, sustentada pela alta do preço dos terrenos.
TAL alta, que sobrevém justamente quando começa a deslanchar a construção de casas populares, teve um efeito previsível: as vendas de residências novas, segundo o Sindicato das Empresas Corretoras e Vendedoras de Imóveis (Secovi) em São Paulo, caíram 21% de Março para Abril, embora tenham sido vendidas mais unidades do que em 2009; e no quadrimestre foram vendidos 11.697 imóveis, 72,4% a mais do que no mesmo período do ano anterior.

DE FATO não se trata de uma crise imobiliária - apenas os dados de Abril fazem soar um sinal de alarme, que se deve levar em conta.

EXISTEM três gargalos no setor da construção civil no Brasil. O primeiro diz respeito a todas as empresas que participam da construção e oferta de imóveis. Se, de repente, as compras de imóveis recém-construídos parassem, elas se encontrariam numa situação delicada, por se terem endividado e ficado sem comprador. A situação tornar-se-ia delicada se isso acontecesse com um importante número de construtores: a única solução seria oferecer os imóveis a um preço mais baixo e, em certos casos, com perdas.

OUTRA categoria de compradores que corre risco é a dos que compraram imóveis com o objetivo de especular e que, com a alta de preços, não acham para quem vender.

A MAIS longo prazo, há o risco dos atuais proprietários que compraram unidades habitacionais a um preço elevado e que, em dificuldades para honrar seus compromissos, se verão na obrigação de oferecê-las a um preço bem inferior ao da compra.

POR enquanto, não estamos diante de nenhuma dessas situações, mas convém acompanhar com atenção a evolução do mercado imobiliário e, especialmente, não permitir que empresas financeiras se aproveitem de um contexto anormal para refinanciar, a um custo alto, as prestações em atraso.