Comemoração aliada à cautela
SÃO PAULO (SP) – A ECONOMIA brasileira disparou no primeiro trimestre e cresceu 2,7%, em ritmo equivalente a 11,2% ao ano, enquanto a maior parte do mundo mal começava a sair da recessão. O governo tem excelentes motivos para celebrar esse desempenho, especialmente porque o aumento da produção e das vendas veio acompanhado de uma forte expansão do emprego. Mas a boa notícia é também um fator de preocupação. Para o Brasil, expansão “chinesa” resulta em aumento da inflação e em perigoso desajuste das contas externas.
O MINISTRO de Estado da Fazenda, Guido Mantega (PT-SP), concorda com essa avaliação, mas tenta tranquilizar quem se preocupa. Segundo ele, a acomodação já começou e o crescimento acumulado no ano ficará entre 6% e 6,5%.
OS EXCELENTES números divulgados essa semana pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) não chegaram a surpreender. Tanto no governo quanto no setor privado já se estimava para o primeiro trimestre uma expansão na faixa de 2% a 2,5%. Mantido ao longo do ano, esse nível de atividade resultaria num crescimento pouco abaixo ou pouco acima de 10%.
NESTA última semana, as projeções econômicas coletadas pelo Banco Central do Brasil (BC) em consultorias e instituições financeiras já eram baseadas em estimativas dessa ordem. Os cálculos indicavam para 2010 uma inflação de 5,6%, bem acima do centro da meta (4,5%), um superávit comercial de apenas US$ 15 bilhões e um déficit de US$ 48,5 bilhões na conta corrente do balanço de pagamentos. Para 2011 projeta-se um rombo de US$ 58 bilhões.
É BASTANTE razoável prever alguma acomodação da atividade econômica ao longo do ano e alguns sinais já são indicados pelas entidades empresariais. Mas são sinais pouco claros. Em Maio, as montadoras produziram 309.629 veículos, 6,6% mais do que no mês anterior e 14,9% mais do que um ano antes. O arrefecimento observado em Abril parece ter sido passageiro. Os últimos dados gerais da Confederação Nacional da Indústria (CNI) são desse mês. Em Abril, segundo esse levantamento, a indústria de transformação faturou 4,9% menos que em Março, descontada a inflação. As horas de trabalho na produção diminuíram 3,4%.
ENTRETANTO, o uso da capacidade instalada aumentou 0,8%, chegou a 83% e voltou ao nível anterior à crise de 2008. De Janeiro a Abril deste ano o faturamento real foi 12,1% maior do que o de um ano antes. Se a capacidade usada é a mesma de antes da crise, o investimento do último ano e meio foi insuficiente para um crescimento seguro.
TAL HIPÓTESE parece confirmada pelo estudo do IBGE. No primeiro trimestre, o investimento em máquinas, equipamentos e instalações aumentou 7,4% em relação aos três meses finais de 2009, um resultado notável. Mantido até o fim do ano, esse desempenho corresponderia a um crescimento de 33%. Mas a evolução acumulada em quatro trimestres, até Março, ainda foi uma redução de 1,5%. A proporção entre o investimento e o Produto Interno Bruto (PIB), 18%, voltou ao nível do primeiro trimestre de 2008. Apesar da elevação, continua insuficiente para uma expansão econômica sensivelmente superior a 5% ou 6% ao ano.
O SETOR privado continua sendo, de longe, o responsável principal pela ampliação da capacidade produtiva. No setor público, a companhia pública Petrobrás S/A é uma exceção. O governo poderia fazer muito mais do que tem feito para ampliar e modernizar as estradas e outros componentes da infraestrutura. Mas não tem mostrado capacidade gerencial para isso nem tem oferecido ao setor privado oportunidades suficientes para participar desse esforço por meio de concessões e de parcerias.
ADEMAIS, a tributação continua crescendo excessivamente e dificultando a ampliação da base produtiva. Nos quatro trimestres terminados em Março, o PIB a preços básicos aumentou 2,3%, enquanto a arrecadação de impostos sobre produtos aumentou 3,6%.
E A ARRECADAÇÃO continua crescendo e o vosso presidente da República, Luiz Inácio da Silva (PT-SP), já prometeu liberar os gastos federais contingenciados. Se isso ocorrer, a despesa do governo continuará alimentando a expansão da demanda interna. A acomodação da economia dependerá da alta de juros e, talvez, dos efeitos da crise europeia sobre o crédito. Não é uma perspectiva animadora.
ESSE crescimento de 2,7% do PIB, no primeiro trimestre do ano, em relação ao quarto trimestre do ano passado, e de 9%, ante o mesmo período de 2009, mostra uma economia superaquecida e, sem dúvida, acima do seu potencial. Seríamos tentados a dizer que se trata de um PIB para anabolizar a campanha eleitoral governista.
TODOS os dados divulgados pelo IBGE apresentam equilíbrio no crescimento dos diversos setores e nos componentes da demanda, como se verificaria num país como a China, do qual nos aproximamos em taxa de crescimento.
OUTRO fato positivo foi o aumento da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), isto é, dos investimentos, que cresceram 26,9% em relação ao mesmo trimestre de 2009, mas apenas 7,4% ante o quarto trimestre do ano anterior. Atrás desses resultados está a maior dinamização do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que o lullismo escolheu como emblema da campanha política.
A ALTA dos investimentos tem, todavia, sua contrapartida na fraca relação da FBCF com o PIB: de apenas 18%, ante 18,1% no primeiro trimestre de 2008, e de 19%, no de 2009. Um outro fator de preocupação é a relação entre poupança e PIB. No primeiro trimestre foi de apenas 15,8% - ante o nível máximo mais recente, de 18,2%, no primeiro trimestre de 2004 - e que, para comparar, é de 40% na China. Há que elevar muito mais os investimentos para não termos de recorrer à poupança externa.
ISSO mostra que a taxa de crescimento da economia está acima do nosso potencial: de uma taxa anualizada ligeiramente superior a 9%, teremos de reduzir o PIB, sensivelmente, nos próximos meses, sob pena de elevarmos as dívidas externa e interna a um nível insuportável, ao mesmo tempo que estaremos criando uma forte pressão inflacionária.
O BC, na sua reunião do Comitê de Política Monetária (CPM) na última Quarta-feira, 09, elevou a Taxa Selic. A marcha da economia também vai contribuir para conter o crescimento, com preços mais elevados - o que já se refletiu nos dados sobre a produção industrial de Abril.
O MINISTRO de Estado da Fazenda, Guido Mantega (PT-SP), concorda com essa avaliação, mas tenta tranquilizar quem se preocupa. Segundo ele, a acomodação já começou e o crescimento acumulado no ano ficará entre 6% e 6,5%.
OS EXCELENTES números divulgados essa semana pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) não chegaram a surpreender. Tanto no governo quanto no setor privado já se estimava para o primeiro trimestre uma expansão na faixa de 2% a 2,5%. Mantido ao longo do ano, esse nível de atividade resultaria num crescimento pouco abaixo ou pouco acima de 10%.
NESTA última semana, as projeções econômicas coletadas pelo Banco Central do Brasil (BC) em consultorias e instituições financeiras já eram baseadas em estimativas dessa ordem. Os cálculos indicavam para 2010 uma inflação de 5,6%, bem acima do centro da meta (4,5%), um superávit comercial de apenas US$ 15 bilhões e um déficit de US$ 48,5 bilhões na conta corrente do balanço de pagamentos. Para 2011 projeta-se um rombo de US$ 58 bilhões.
É BASTANTE razoável prever alguma acomodação da atividade econômica ao longo do ano e alguns sinais já são indicados pelas entidades empresariais. Mas são sinais pouco claros. Em Maio, as montadoras produziram 309.629 veículos, 6,6% mais do que no mês anterior e 14,9% mais do que um ano antes. O arrefecimento observado em Abril parece ter sido passageiro. Os últimos dados gerais da Confederação Nacional da Indústria (CNI) são desse mês. Em Abril, segundo esse levantamento, a indústria de transformação faturou 4,9% menos que em Março, descontada a inflação. As horas de trabalho na produção diminuíram 3,4%.
ENTRETANTO, o uso da capacidade instalada aumentou 0,8%, chegou a 83% e voltou ao nível anterior à crise de 2008. De Janeiro a Abril deste ano o faturamento real foi 12,1% maior do que o de um ano antes. Se a capacidade usada é a mesma de antes da crise, o investimento do último ano e meio foi insuficiente para um crescimento seguro.
TAL HIPÓTESE parece confirmada pelo estudo do IBGE. No primeiro trimestre, o investimento em máquinas, equipamentos e instalações aumentou 7,4% em relação aos três meses finais de 2009, um resultado notável. Mantido até o fim do ano, esse desempenho corresponderia a um crescimento de 33%. Mas a evolução acumulada em quatro trimestres, até Março, ainda foi uma redução de 1,5%. A proporção entre o investimento e o Produto Interno Bruto (PIB), 18%, voltou ao nível do primeiro trimestre de 2008. Apesar da elevação, continua insuficiente para uma expansão econômica sensivelmente superior a 5% ou 6% ao ano.
O SETOR privado continua sendo, de longe, o responsável principal pela ampliação da capacidade produtiva. No setor público, a companhia pública Petrobrás S/A é uma exceção. O governo poderia fazer muito mais do que tem feito para ampliar e modernizar as estradas e outros componentes da infraestrutura. Mas não tem mostrado capacidade gerencial para isso nem tem oferecido ao setor privado oportunidades suficientes para participar desse esforço por meio de concessões e de parcerias.
ADEMAIS, a tributação continua crescendo excessivamente e dificultando a ampliação da base produtiva. Nos quatro trimestres terminados em Março, o PIB a preços básicos aumentou 2,3%, enquanto a arrecadação de impostos sobre produtos aumentou 3,6%.
E A ARRECADAÇÃO continua crescendo e o vosso presidente da República, Luiz Inácio da Silva (PT-SP), já prometeu liberar os gastos federais contingenciados. Se isso ocorrer, a despesa do governo continuará alimentando a expansão da demanda interna. A acomodação da economia dependerá da alta de juros e, talvez, dos efeitos da crise europeia sobre o crédito. Não é uma perspectiva animadora.
ESSE crescimento de 2,7% do PIB, no primeiro trimestre do ano, em relação ao quarto trimestre do ano passado, e de 9%, ante o mesmo período de 2009, mostra uma economia superaquecida e, sem dúvida, acima do seu potencial. Seríamos tentados a dizer que se trata de um PIB para anabolizar a campanha eleitoral governista.
TODOS os dados divulgados pelo IBGE apresentam equilíbrio no crescimento dos diversos setores e nos componentes da demanda, como se verificaria num país como a China, do qual nos aproximamos em taxa de crescimento.
OUTRO fato positivo foi o aumento da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), isto é, dos investimentos, que cresceram 26,9% em relação ao mesmo trimestre de 2009, mas apenas 7,4% ante o quarto trimestre do ano anterior. Atrás desses resultados está a maior dinamização do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que o lullismo escolheu como emblema da campanha política.
A ALTA dos investimentos tem, todavia, sua contrapartida na fraca relação da FBCF com o PIB: de apenas 18%, ante 18,1% no primeiro trimestre de 2008, e de 19%, no de 2009. Um outro fator de preocupação é a relação entre poupança e PIB. No primeiro trimestre foi de apenas 15,8% - ante o nível máximo mais recente, de 18,2%, no primeiro trimestre de 2004 - e que, para comparar, é de 40% na China. Há que elevar muito mais os investimentos para não termos de recorrer à poupança externa.
ISSO mostra que a taxa de crescimento da economia está acima do nosso potencial: de uma taxa anualizada ligeiramente superior a 9%, teremos de reduzir o PIB, sensivelmente, nos próximos meses, sob pena de elevarmos as dívidas externa e interna a um nível insuportável, ao mesmo tempo que estaremos criando uma forte pressão inflacionária.
O BC, na sua reunião do Comitê de Política Monetária (CPM) na última Quarta-feira, 09, elevou a Taxa Selic. A marcha da economia também vai contribuir para conter o crescimento, com preços mais elevados - o que já se refletiu nos dados sobre a produção industrial de Abril.
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