Recuperação missionária
SÃO PAULO (SP)- IMPÕE-SE a Sebastián Piñera, que assumiu na última Quinta-feira, 11, a presidência da República do Chile, a formação de um governo de união nacional, embora sem alinhamento partidário. Depois do terremoto devastador de 8,8 de magnitude na escala Richter e suas réplicas e do violento tsunami que o acompanhou, Piñera precisa mobilizar todas as forças do país para que o Chile possa recuperar-se da catástrofe em quatro anos.
E ESSA tarefa será facilitada pela atitude da Concertación, a frente de centro-esquerda da ex-presidente da República, Michelle Bachelet, que foi para a Oposição, mas já se comprometeu a apoiar o novo governo na reconstrução do país. Bachelet descartou, a princípio, a necessidade de ajuda externa, mas nos últimos dias afirmou que o governo iria recorrer ao Banco Mundial (BIRD) e outras instituições financeiras internacionais e já recebeu uma ajuda simbólica de US$ 10 milhões da Organização das Nações Unidas (ONU).
UM ALTO custo em vidas humanas, embora ainda impreciso, sem dúvida é elevado, e também não há ainda um cálculo oficial sobre prejuízos materiais, especialmente nas regiões mais afetadas, como Bio-Bio, onde fica Concepción, a segunda cidade mais populosa do país, e Maule, onde se localizam Talca e Constitución.
E RODOVIAS-tronco, como a parte chilena da Rodovia Pan-Americana, ligando Arica e Antofagasta, no norte, a Puerto Montt e Punta Arenas, no extremo sul, vão exigir pesados investimentos para voltar às condições normais. Minas de cobre em exploração pela estatal Codelco e pela Billington já voltaram a funcionar, ainda que precariamente, dados os danos na rede elétrica.
ALGUNS analistas independentes estimam que as perdas totais sofridas pelo Chile alcancem US$ 30 bilhões. Se este número for confirmado, representará um quinto do Produto Interno Bruto (PIB), estimado em US$ 150 bilhões em termos nominais. Em decorrência da crise internacional, o PIB chileno teve um recuo de 0,9% em 2009, segundo reportagem da revista inglesa The Economist, mas se prognosticava, antes do terremoto, um crescimento de 4,8% neste ano. Agora, prevê-se uma expansão de apenas 1%.
A TAXA de desemprego, por volta de 10% em 2009, poderá baixar em função das obras de reconstrução. Quanto à inflação (1,7% ao ano), vai sofrer pressões, mas deve permanecer contida pela política de austeridade fiscal e monetária adotada pelo governo.
DEVIDO ao excelente conceito de que goza a economia do Chile, é baixo o risco de fuga de capitais ou de redução de investimentos diretos. Empresário como é, o presidente Piñera, recém-empossado, sabe que a reconstrução depende muito menos da ação direta do Estado do que da confiança do setor privado nacional e internacional. É provável que, em face das circunstâncias, venha a conceder incentivos a novos investimentos.
CERTAMENTE haverá um recuo no volume das vendas externas, mas isso talvez possa, em certa medida, ser compensado pela alta do cobre e outros produtos minerais, como o salitre. A exportação de celulose, vinhos, pescados, frutas e outros produtos pode ser retomada a médio prazo.
TAL SITUAÇÃO é dramática, mas está longe de ter os efeitos corrosivos da fase que viveu o Chile depois de Maio de 1960, quando aquele país foi abalado por um terremoto de 9,5 na escala Richter, o maior já registrado no mundo. Ao terremoto e maremoto de Valdivia, como ficou conhecido aquele evento sísmico, seguiu-se um período de instabilidade econômica e de intensa agitação política.
ATUALMENTE o Chile está muito mais capacitado para enfrentar as consequências do desastre. Suas reservas são de US$ 25 bilhões, reforçadas por uma política fiscal exemplar, anticíclica, vinculada às receitas fiscais dos minerais exportados. A meta era de um superávit fiscal nominal do setor público de 1%, depois reduzido para 0,5%, de modo a prover recursos para o Fundo de Compensação do Cobre (FCC), que hoje conta com o equivalente a US$ 11 bilhões. Ao todo, o país dispõe de uma reserva de poupança correspondente a 21% do PIB.
E SOBRETUDO, o regime democrático, com pleno respeito aos direitos civis, está firmemente implantado no Chile. A eleição de Piñera, a primeira de um político de centro-direita, depois de 20 anos de governos da Concertación, marcou, na realidade, o fim de um ciclo. O Chile vai se reerguer outra vez e continuará sendo um paradigma político e econômico para seus vizinhos latino-americanos.
E ESSA tarefa será facilitada pela atitude da Concertación, a frente de centro-esquerda da ex-presidente da República, Michelle Bachelet, que foi para a Oposição, mas já se comprometeu a apoiar o novo governo na reconstrução do país. Bachelet descartou, a princípio, a necessidade de ajuda externa, mas nos últimos dias afirmou que o governo iria recorrer ao Banco Mundial (BIRD) e outras instituições financeiras internacionais e já recebeu uma ajuda simbólica de US$ 10 milhões da Organização das Nações Unidas (ONU).
UM ALTO custo em vidas humanas, embora ainda impreciso, sem dúvida é elevado, e também não há ainda um cálculo oficial sobre prejuízos materiais, especialmente nas regiões mais afetadas, como Bio-Bio, onde fica Concepción, a segunda cidade mais populosa do país, e Maule, onde se localizam Talca e Constitución.
E RODOVIAS-tronco, como a parte chilena da Rodovia Pan-Americana, ligando Arica e Antofagasta, no norte, a Puerto Montt e Punta Arenas, no extremo sul, vão exigir pesados investimentos para voltar às condições normais. Minas de cobre em exploração pela estatal Codelco e pela Billington já voltaram a funcionar, ainda que precariamente, dados os danos na rede elétrica.
ALGUNS analistas independentes estimam que as perdas totais sofridas pelo Chile alcancem US$ 30 bilhões. Se este número for confirmado, representará um quinto do Produto Interno Bruto (PIB), estimado em US$ 150 bilhões em termos nominais. Em decorrência da crise internacional, o PIB chileno teve um recuo de 0,9% em 2009, segundo reportagem da revista inglesa The Economist, mas se prognosticava, antes do terremoto, um crescimento de 4,8% neste ano. Agora, prevê-se uma expansão de apenas 1%.
A TAXA de desemprego, por volta de 10% em 2009, poderá baixar em função das obras de reconstrução. Quanto à inflação (1,7% ao ano), vai sofrer pressões, mas deve permanecer contida pela política de austeridade fiscal e monetária adotada pelo governo.
DEVIDO ao excelente conceito de que goza a economia do Chile, é baixo o risco de fuga de capitais ou de redução de investimentos diretos. Empresário como é, o presidente Piñera, recém-empossado, sabe que a reconstrução depende muito menos da ação direta do Estado do que da confiança do setor privado nacional e internacional. É provável que, em face das circunstâncias, venha a conceder incentivos a novos investimentos.
CERTAMENTE haverá um recuo no volume das vendas externas, mas isso talvez possa, em certa medida, ser compensado pela alta do cobre e outros produtos minerais, como o salitre. A exportação de celulose, vinhos, pescados, frutas e outros produtos pode ser retomada a médio prazo.
TAL SITUAÇÃO é dramática, mas está longe de ter os efeitos corrosivos da fase que viveu o Chile depois de Maio de 1960, quando aquele país foi abalado por um terremoto de 9,5 na escala Richter, o maior já registrado no mundo. Ao terremoto e maremoto de Valdivia, como ficou conhecido aquele evento sísmico, seguiu-se um período de instabilidade econômica e de intensa agitação política.
ATUALMENTE o Chile está muito mais capacitado para enfrentar as consequências do desastre. Suas reservas são de US$ 25 bilhões, reforçadas por uma política fiscal exemplar, anticíclica, vinculada às receitas fiscais dos minerais exportados. A meta era de um superávit fiscal nominal do setor público de 1%, depois reduzido para 0,5%, de modo a prover recursos para o Fundo de Compensação do Cobre (FCC), que hoje conta com o equivalente a US$ 11 bilhões. Ao todo, o país dispõe de uma reserva de poupança correspondente a 21% do PIB.
E SOBRETUDO, o regime democrático, com pleno respeito aos direitos civis, está firmemente implantado no Chile. A eleição de Piñera, a primeira de um político de centro-direita, depois de 20 anos de governos da Concertación, marcou, na realidade, o fim de um ciclo. O Chile vai se reerguer outra vez e continuará sendo um paradigma político e econômico para seus vizinhos latino-americanos.
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