O ódio expresso à Imprensa livre
SÃO PAULO (SP) - LUIZ Inácio da Silva (PT-SP) não é o primeiro nem será o último chefe de governo, em qualquer instância e de qualquer país democrático, a se queixar da Imprensa. Para não ir muito atrás, nem muito longe, o que se falava mal da mídia no Palácio do Planalto na época em que Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP) presidiu a República do Brasil (1995-2002) e o que se fala no Palácio da Liberdade ainda sob a batuta do governador Aécio Neves da Cunha (PSDB-MG), por exemplo, ocupariam páginas inteiras de um periódico. Jornalistas - essa a reclamação recorrente nos palácios de todas as cores -, ignoram na maior parte do tempo o que se faz de bom (e o esforço que isso demanda), só destacam o que vai mal (sem se aprofundar nas causas dos problemas) e preferem a fofoca aos fatos relevantes (porque estes dão mais trabalho para apurar).
EXISTE, no entanto, uma diferença - não de grau, mas de natureza -, entre os protestos dos que se julgam injustiçados pelos meios de comunicação e os sistemáticos ataques de Luiz Inácio da Silva à Imprensa a que acusa, indistintamente, de tratar o seu governo com "má-fé". Governadores e prefeitos, ministros e secretários podem deplorar a suposta miopia do noticiário, mas reconhecem a carga inerente de tensão no seu relacionamento com o Jornalismo que a eles não se subordina. Já o caso do “CARA!” é obsessão. Desde o escândalo do mensalão empreendido pelo delubiovalerioduto sob o auspicioso olhar do ex-todo-poderoso comissário do petismo (hoje com os direitos políticos cassados) José Dirceu (PT-SP), em 2005, “O-CARA” está em campanha para demolir a credibilidade dos órgãos independentes de informação. As suas diatribes, como a dessa semana que terminou, durante um evento, são uma mistura de vezo autoritário com ressentimento de classe, agravada pelo descontrole emocional diante da mera expectativa de receber críticas.
EM UM passado não muito remoto, “O-CARA!” dizia que não teria se tornado o que se tornou, a ponto de disputar a Presidência da República do Brasil, não fosse a liberdade de Imprensa no Brasil. Foi ela quem de fato propeliu o seu nome, cobrindo passo a passo a sua trajetória, fossem quais fossem os julgamentos que pudesse fazer a seu respeito. Isso não mudou, mas o que “O-CARA!” hoje entende por liberdade de Imprensa é uma caricatura grotesca. "É triste", investiu, "quando as pessoas têm o direito de escrever as coisas certas e escrevem as coisas erradas”. Nas democracias, as pessoas têm o direito de escrever, ponto. Nas ditaduras, quem diz o que é certo ou errado é o ditador. Para “O-CARA!”, o certo seria a Imprensa dizer que o Programa de Aceleração do Crescimento Econômico (PAC) é uma maravilha. O errado, informar que apenas 11% de suas obras foram concluídas e 54% não saíram do papel.
E TAMBÉM sob a mesma ótica, certa seria a Imprensa olhar para o outro lado enquanto ele promove, com assombroso despudor, a candidatura da comissária Dilma (Pinóquio) Rousseff (PT-RS). Na mesma ocasião em que vociferou contra a mídia, deu a deixa para a plateia gritar o nome da ministra-candidata, ao afirmar: "Eu não posso dizer quem vai ser (o sucessor), eu não posso dizer, porque, porque? vamos aguardar”. Errado é noticiar que Dona Rousseff inaugura obras que não estão concluídas. “O-CARA!” afirma que a Imprensa tem predileção pela desgraça "para dizer: viu, o menino não era letrado, o menino nasceu para ser torneiro mecânico. A partir daí já é abuso". Ele jamais se cansará de fazer praça de suas origens - menos por justo orgulho do que para insuflar o eleitorado pobre. Mas nunca pôs a sua formidável popularidade a serviço da Educação, dizendo algo como "se sou o que sou sem ter estudado, imaginem o que eu seria se tivesse".
NOSSOS historiadores do futuro certamente terão muito a dizer sobre a contribuição do governo Luiz Inácio da Silva (2003-10) para o prosseguimento das transformações pelas quais o País começou a passar nos anos 1990. Tampouco deixarão de registrar que a democracia lhe deve a decisão de não buscar um terceiro mandato mediante emenda constitucional. Mas haverão de lembrar que nunca antes neste país, em regime democrático, um presidente da República havia manifestado tanto ódio pela Imprensa livre. “O-CARA!” é o governante que, com pouco mais de um ano no poder, tentou expulsar do País o correspondente do The New York Times Journal por ter escrito uma reportagem (de duvidosa qualidade, por sinal) sobre o que seria o seu gosto pela bebida. Alertado pelo então ministro de Estado da Justiça, Marcio Thomaz Bastos (PT-SP), de que a expulsão seria inconstitucional (o jornalista era casado com uma brasileira), “O-CARA!” explodiu: "Foda-se a Constituição!”.
EXISTE, no entanto, uma diferença - não de grau, mas de natureza -, entre os protestos dos que se julgam injustiçados pelos meios de comunicação e os sistemáticos ataques de Luiz Inácio da Silva à Imprensa a que acusa, indistintamente, de tratar o seu governo com "má-fé". Governadores e prefeitos, ministros e secretários podem deplorar a suposta miopia do noticiário, mas reconhecem a carga inerente de tensão no seu relacionamento com o Jornalismo que a eles não se subordina. Já o caso do “CARA!” é obsessão. Desde o escândalo do mensalão empreendido pelo delubiovalerioduto sob o auspicioso olhar do ex-todo-poderoso comissário do petismo (hoje com os direitos políticos cassados) José Dirceu (PT-SP), em 2005, “O-CARA” está em campanha para demolir a credibilidade dos órgãos independentes de informação. As suas diatribes, como a dessa semana que terminou, durante um evento, são uma mistura de vezo autoritário com ressentimento de classe, agravada pelo descontrole emocional diante da mera expectativa de receber críticas.
EM UM passado não muito remoto, “O-CARA!” dizia que não teria se tornado o que se tornou, a ponto de disputar a Presidência da República do Brasil, não fosse a liberdade de Imprensa no Brasil. Foi ela quem de fato propeliu o seu nome, cobrindo passo a passo a sua trajetória, fossem quais fossem os julgamentos que pudesse fazer a seu respeito. Isso não mudou, mas o que “O-CARA!” hoje entende por liberdade de Imprensa é uma caricatura grotesca. "É triste", investiu, "quando as pessoas têm o direito de escrever as coisas certas e escrevem as coisas erradas”. Nas democracias, as pessoas têm o direito de escrever, ponto. Nas ditaduras, quem diz o que é certo ou errado é o ditador. Para “O-CARA!”, o certo seria a Imprensa dizer que o Programa de Aceleração do Crescimento Econômico (PAC) é uma maravilha. O errado, informar que apenas 11% de suas obras foram concluídas e 54% não saíram do papel.
E TAMBÉM sob a mesma ótica, certa seria a Imprensa olhar para o outro lado enquanto ele promove, com assombroso despudor, a candidatura da comissária Dilma (Pinóquio) Rousseff (PT-RS). Na mesma ocasião em que vociferou contra a mídia, deu a deixa para a plateia gritar o nome da ministra-candidata, ao afirmar: "Eu não posso dizer quem vai ser (o sucessor), eu não posso dizer, porque, porque? vamos aguardar”. Errado é noticiar que Dona Rousseff inaugura obras que não estão concluídas. “O-CARA!” afirma que a Imprensa tem predileção pela desgraça "para dizer: viu, o menino não era letrado, o menino nasceu para ser torneiro mecânico. A partir daí já é abuso". Ele jamais se cansará de fazer praça de suas origens - menos por justo orgulho do que para insuflar o eleitorado pobre. Mas nunca pôs a sua formidável popularidade a serviço da Educação, dizendo algo como "se sou o que sou sem ter estudado, imaginem o que eu seria se tivesse".
NOSSOS historiadores do futuro certamente terão muito a dizer sobre a contribuição do governo Luiz Inácio da Silva (2003-10) para o prosseguimento das transformações pelas quais o País começou a passar nos anos 1990. Tampouco deixarão de registrar que a democracia lhe deve a decisão de não buscar um terceiro mandato mediante emenda constitucional. Mas haverão de lembrar que nunca antes neste país, em regime democrático, um presidente da República havia manifestado tanto ódio pela Imprensa livre. “O-CARA!” é o governante que, com pouco mais de um ano no poder, tentou expulsar do País o correspondente do The New York Times Journal por ter escrito uma reportagem (de duvidosa qualidade, por sinal) sobre o que seria o seu gosto pela bebida. Alertado pelo então ministro de Estado da Justiça, Marcio Thomaz Bastos (PT-SP), de que a expulsão seria inconstitucional (o jornalista era casado com uma brasileira), “O-CARA!” explodiu: "Foda-se a Constituição!”.
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