Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

quinta-feira, dezembro 24, 2009

Uma babel globalizada

RIO DE JANEIRO (RJ) - A BEM da verdade, nenhum ser vivente que raciocina e articula algumas palavras, esperava que a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas - a chamada “COP 2009”-, encerrada na última Sexta-feira, 18, em Copenhague, fosse resultar em decisões políticas que significassem o começo do fim do aquecimento global que ameaça a existência da vida no planeta. No máximo, a reunião de cúpula deveria estabelecer as condições para que a próxima cúpula, marcada para Dezembro de 2010, no México, adotasse metas obrigatórias de redução dos gases do efeito estufa e criasse os meios para que os países pobres e em desenvolvimento pudessem custear tanto as mudanças de seus modos de produção como os processos de adaptação a elas.

CONTUDO, o que se viu em Copenhague foi uma confusão babélica, que terminou - fato raríssimo na história desses encontros - sem que houvesse um documento final, uma declaração conjunta ou mesmo uma entrevista coletiva em que os organizadores do evento explicassem as conclusões a que chegaram. Por absoluta falta de consenso - e as decisões, no sistema da Organização das Nações Unidas (ONU), são tomadas desta forma, não sendo aprovadas se apenas um país rejeitar a proposta -, o máximo que se conseguiu foi transformar o que deveria ser o documento final num mero apêndice de uma decisão regimental.

SEQUER as propostas de corte de emissões de gases estufa e as ofertas de contribuições em dinheiro para o fundo comum de mudança e adaptação, levadas por vários países, foram incluídas no tal apêndice.

ESSA COP 2009 foi mais do que perda de tempo. O fiasco certamente será determinante no esfriamento da opinião pública mundial. Nos últimos dois anos, além dos gastos na preparação da conferência, governos e Organizações Não-Governamentais (ONGs) que se preocupam com o problema do aquecimento global trataram de mobilizar as respectivas populações para o que seria um esforço planetário de contenção da devastação ambiental.

PORÉM o resultado de Copenhague 2009 foi anticlimático. Divergências entre as lideranças dos dois países que mais poluem no mundo - os Estados Unidos da América (EUA) e a China - levaram a um impasse. Antes, os organizadores da conferência haviam preparado um rascunho de documento de trabalho que, se adotado, permitiria aos países ricos continuar poluindo e condenava os países pobres a arcar com os custos econômicos e sociais do efeito estufa. Distribuído para uma dezena de países, ditos formadores de consenso, o documento vazou para a Imprensa e causou indignação geral, sendo arquivado. A infeliz sondagem, no entanto, mostrou que rumos a conferência tomaria. Finalmente, numa última tentativa para salvar a reunião de cúpula, os governantes do Brasil, China, Índia e África do Sul - aos quais depois se juntou o presidente da República dos EUA, Barack Houssein Obama, sem ter sido convidado - reuniram-se numa sala fechada e elaboraram um documento que não limitava o aumento do aquecimento global a 2°C, não previa recursos suficientes para alcançar a meta e não dava caráter obrigatório às decisões da cúpula.

JÁ NO plenário, o documento foi rejeitado pelo representante de Tuvalu - o primeiro a pedir a palavra. Seguiu-se uma onda de protestos e, a partir daí, a conferência se esvaziou melancolicamente. Cada um dos 119 chefes de governo e de Estado que foram a Copenhague encontrou uma desculpa para antecipar a viagem de volta a seu país.

O FIASCO anunciado, da Conferência Copenhague 2009 foi, assim, maior do que o esperado. O fracasso deveu-se, em boa parte, a problemas de organização. Foram credenciados cerca de 45 mil participantes - um número absurdo, principalmente porque no recinto da conferência não cabiam mais que 15 mil pessoas. A superlotação tumultuou os trabalhos e acabou num confronto entre credenciados barrados na porta e a polícia.

ADEMAIS, serão sempre remotas as possibilidades de consenso entre 192 países - dos quais compareceram 119 presidentes e primeiros-ministros - que têm regimes políticos diferentes, sistemas econômicos e estágios de desenvolvimento desiguais e distintas concepções de suas soberanias. Alguns, por exemplo, não admitem o monitoramento internacional das emissões.

E PARA comletar, não havia um sólido documento técnico a partir do qual os políticos pudessem tomar suas decisões. A COP 2009 foi uma sucessão de erros que será preciso evitar. A ameaça ambiental é séria demais para ser tratada por amadores.