O brilho de Abbas
NA Assembleia-Geral das Nações Unidas, realizada na semana passada em Nova York, quem de fato brilhou foi o líder palestino Mahmoud Zeidan Abbas. Ele fez história no evento anual da Organização das Nações Unidas (ONU). E não só por ter cumprido a promessa de entregar ao secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, o pedido de reconhecimento da Palestina como Estado e membro de pleno direito do organismo - depois de enfrentar pressões ocidentais, ameaças israelenses e a reprovação dos extremistas do Hamas, que controlam a Faixa de Gaza e se opõem à solução dos dois Estados para o conflito entre árabes e judeus. Abbas fez história também porque, dê no que der, a sua iniciativa colocou a causa palestina, pela primeira vez em décadas, no centro das atenções da instituição que, mal ou bem, representa o mundo. Além disso, criou as condições para ressuscitar, quem sabe com novo script e novos atores, o processo de paz que o governo direitista do primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, deixou morrer de inanição.
DE Fato os homens não fazem a história como querem, mas como podem. Abbas soube distinguir uma coisa da outra ao aceitar que o Conselho de Segurança (CS) da ONU, o foro por excelência para temas dessa natureza, não decida no calor da hora, mas espere a demanda palestina começar a produzir efeitos que se estendam ao calcinado terreno das negociações. Se o plano de Abbas fosse tudo ou nada, ele insistiria no exame imediato da reivindicação, que o governo dos Estados Unidos da América (EUA) já anunciou que vetarão no colegiado -, e deixaria a Cisjordânia ocupada por Israel pegar fogo, com a irrupção de novos protestos turbinados pelo exemplo da primavera árabe. Abbas sabe que o governo norte-americano está jogando pesado nos bastidores para transformar presumíveis votos pró-Palestina em abstenções, a fim de não arcar solitariamente com a responsabilidade de provocar, mais uma vez, a ira muçulmana.
PARA ser aprovada, a iniciativa depende da adesão de 9 dos 15 países com assento no CS, entre membros permanentes com poder de veto (5) e rotativos. No primeiro grupo, os governos da Rússia e China apoiam o pleito palestino, França e Grã-Bretanha tendem a lavar as mãos, EUA e Alemanha se opõem. Na outra bancada, Abbas tem garantidos apenas os votos do Brasil, África do Sul, Índia e Líbano. Para que não consiga os três demais sufrágios que lhe dariam a vitória moral, o governo dos EUA pressiona duramente os governos de Portugal, Nigéria, Bósnia e Gabão a ficar em cima do muro. Dar tempo ao tempo, portanto, interessa ao palestino. O que ele podia querer de imediato já obteve - com a paradoxal ajuda de um presidente da República dos EUA, Barack Houssein Obama, ansioso por conservar nas eleições presidenciais norte-americanas em 2012 o maciço voto judaico que obteve em 2008.
AO pronunciar na última Quinta-feira, 22, durante a Assembleia-Geral da ONU um discurso cujo facciosismo animou o ultrarradical chanceler israelense Avigdor Lieberman a dizer que o assinaria "com as duas mãos", Barack Obama vaporizou o que restava da alegação do governo dos EUA de ser um intermediário honesto entre judeus e árabes, e pavimentou o caminho para a remodelagem das negociações de paz. Na sua vez de falar, o presidente da República da França, Nicolas Sarkozy, debitou aos EUA os "60 anos de fracasso" das tentativas de resolver o impasse no Oriente Médio e desafiou: "Vamos parar de acreditar que um só país ou pequeno grupo de países pode resolver um problema de tamanha complexidade". Para resolvê-lo, não se pode prescindir da Europa nem "do envolvimento dos Estados árabes que já escolheram a paz" - numa alusão ao plano de 2002 do governo da Arábia Saudita, que o governo de Israel ignorou.
O LÍDER francês Sarkozy propôs um cronograma rígido para um acordo que acabaria com a ocupação da Cisjordânia e daria à luz o Estado palestino em um ano. Falta combinar com os russos - no caso, os judeus que migraram em massa da extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e empurraram para a extrema direita o pêndulo da política israelense. Avigdor Lieberman, por exemplo, é um deles. Defendem ardorosamente a colonização da "Judeia e Samaria", abominam a ideia de devolver Jerusalém Oriental aos palestinos, para ser a sua capital, e dizem que a Palestina deve ficar na Jordânia. Não há diferença essencial entre eles e Netanyahu. Este age como se Abbas pudesse continuar negociando enquanto se expande a ocupação judaica dos territórios. Para os palestinos, equivaleria a discutir como dividir uma pizza com alguém que já começou a comê-la - e não dá sinal de parar.
DE Fato os homens não fazem a história como querem, mas como podem. Abbas soube distinguir uma coisa da outra ao aceitar que o Conselho de Segurança (CS) da ONU, o foro por excelência para temas dessa natureza, não decida no calor da hora, mas espere a demanda palestina começar a produzir efeitos que se estendam ao calcinado terreno das negociações. Se o plano de Abbas fosse tudo ou nada, ele insistiria no exame imediato da reivindicação, que o governo dos Estados Unidos da América (EUA) já anunciou que vetarão no colegiado -, e deixaria a Cisjordânia ocupada por Israel pegar fogo, com a irrupção de novos protestos turbinados pelo exemplo da primavera árabe. Abbas sabe que o governo norte-americano está jogando pesado nos bastidores para transformar presumíveis votos pró-Palestina em abstenções, a fim de não arcar solitariamente com a responsabilidade de provocar, mais uma vez, a ira muçulmana.
PARA ser aprovada, a iniciativa depende da adesão de 9 dos 15 países com assento no CS, entre membros permanentes com poder de veto (5) e rotativos. No primeiro grupo, os governos da Rússia e China apoiam o pleito palestino, França e Grã-Bretanha tendem a lavar as mãos, EUA e Alemanha se opõem. Na outra bancada, Abbas tem garantidos apenas os votos do Brasil, África do Sul, Índia e Líbano. Para que não consiga os três demais sufrágios que lhe dariam a vitória moral, o governo dos EUA pressiona duramente os governos de Portugal, Nigéria, Bósnia e Gabão a ficar em cima do muro. Dar tempo ao tempo, portanto, interessa ao palestino. O que ele podia querer de imediato já obteve - com a paradoxal ajuda de um presidente da República dos EUA, Barack Houssein Obama, ansioso por conservar nas eleições presidenciais norte-americanas em 2012 o maciço voto judaico que obteve em 2008.
AO pronunciar na última Quinta-feira, 22, durante a Assembleia-Geral da ONU um discurso cujo facciosismo animou o ultrarradical chanceler israelense Avigdor Lieberman a dizer que o assinaria "com as duas mãos", Barack Obama vaporizou o que restava da alegação do governo dos EUA de ser um intermediário honesto entre judeus e árabes, e pavimentou o caminho para a remodelagem das negociações de paz. Na sua vez de falar, o presidente da República da França, Nicolas Sarkozy, debitou aos EUA os "60 anos de fracasso" das tentativas de resolver o impasse no Oriente Médio e desafiou: "Vamos parar de acreditar que um só país ou pequeno grupo de países pode resolver um problema de tamanha complexidade". Para resolvê-lo, não se pode prescindir da Europa nem "do envolvimento dos Estados árabes que já escolheram a paz" - numa alusão ao plano de 2002 do governo da Arábia Saudita, que o governo de Israel ignorou.
O LÍDER francês Sarkozy propôs um cronograma rígido para um acordo que acabaria com a ocupação da Cisjordânia e daria à luz o Estado palestino em um ano. Falta combinar com os russos - no caso, os judeus que migraram em massa da extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e empurraram para a extrema direita o pêndulo da política israelense. Avigdor Lieberman, por exemplo, é um deles. Defendem ardorosamente a colonização da "Judeia e Samaria", abominam a ideia de devolver Jerusalém Oriental aos palestinos, para ser a sua capital, e dizem que a Palestina deve ficar na Jordânia. Não há diferença essencial entre eles e Netanyahu. Este age como se Abbas pudesse continuar negociando enquanto se expande a ocupação judaica dos territórios. Para os palestinos, equivaleria a discutir como dividir uma pizza com alguém que já começou a comê-la - e não dá sinal de parar.
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