Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

segunda-feira, julho 25, 2011

Vislumbrando uma intervenção maior

LAS VEGAS (EUA) - AQUELE comunicado da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil (BC) não incluiu, como o anterior, que o ajuste poderia se dar por um período "suficientemente prolongado", o que foi interpretado como indicação do fim do ciclo da elevação da Taxa Selic. No entanto, ao falar, na última semana, em elevar "neste momento" a taxa para 12,50%, deixou a impressão de que a decisão tem caráter provisório e pode ser revista. Tal contradição do comunicado, espera-se, poderá ser mais bem esclarecida quando for divulgada a ata da reunião.

UMA primeira indagação é se realmente as autoridades monetárias quiseram anunciar o fim do ciclo da elevação da taxa de juros básica. Poderia parecer que o Copom se deixou influenciar pela evolução dos índices de preços nos últimos meses. Sou da opinião de que essa trégua não deverá ter vida longa. Ocorre num momento em que a economia apresenta elementos de aquecimento (demanda interna sustentada, situação de quase pleno emprego, continuidade da melhora dos rendimentos e dúvidas em torno do núcleo da inflação), situação agravada quando se examinam os fatores que provavelmente poderão lançar mais combustível no incêndio. Por exemplo, os reajustes salariais dos próximos meses, a inclinação do governo em gastar mais, aproveitando o aumento que não previra das suas receitas, uma aceleração dos investimentos do setor público - incluindo as empresas públicas e estatais controladas pelo governo - e a necessidade de apressar os gastos vinculados aos eventos esportivos. Nem se fale do próximo ano, quando deveremos enfrentar em Janeiro uma elevação do Salário Mínimo de até 15%.

UMA segunda dúvida é relativa à introdução no comunicado da expressão "neste momento". Duas interpretações podem ser dadas: os membros do Copom quiseram compensar a supressão do aviso de que a política de austeridade seria prolongada, para satisfação de todos os economistas que nos últimos meses condenaram a elevação da taxa básica de juros. Outros analistas consideram que o Copom se reservou o direito de manter essa política, se a evolução da conjuntura internacional (aqui nos Estados Unidos da América – EUA - e, especialmente, lá na Europa) representar um perigo para a economia brasileira.

DE FATO é interessante - caso essa interpretação se justifique - verificar que as autoridades monetárias brasileiras consideram, afinal, que essas perturbações podem afetar nossa economia, o que também é a minha opinião.

É BEM provável que o Copom quisesse criar essas dúvidas no mercado para ter as mãos livres para uma intervenção maior.