Padrão petista de manipulação
ENTÃO, no entendimento do ministro de Estado da Fazenda, Guido Mantega (PT-SP), o governo, ao qual serve desde 2003, tem o direito de retaliar empresas privadas, quando não concorda com decisões de seus dirigentes. Ele expôs sua convicção de forma inequívoca, ao falar no Senado Federal, na semana passada, sobre a mudança de comando na Companhia Vale do Rio do Doce (Vale S/A), decidida formalmente em Abril último. O governo, disse Mantega, poderia ter retaliado a Vale, quando seu principal executivo, Roger Agnelli, se recusou a atender a pedidos do então presidente da República, Luiz Inácio da Silva (PT-SP) em 2008. Não fez isso porque não quis, o que, segundo ele, mostra que não houve interferência do governo na substituição de Agnelli.
MAS a interferência foi evidente e ocorreu não só quando Luiz Inácio da Silva pressionou a diretoria da Vale S/A, mas também quando o ministro Mantega convidou o presidente do Conselho de Administração do Bradesco S/A, Lázaro Brandão, para discutir a sucessão de Agnelli. O Bradesco integra o bloco de controle do capital social da Vale S/A e a mudança na direção da mineradora brasileira dependeria de sua concordância. Depois dos encontros de Mantega com Brandão, uma fonte do Bradesco ouvida pela nossa reportagem revelou ter havido uma pressão massacrante. Essa informação foi divulgada na ocasião. A Imprensa noticiou também a primeira reunião de Mantega com Brandão.
TAL indiscrição de Mantega, segundo fonte do governo ouvida pela nossa reportagem ontem, desagradou à presidente da República, Dilma Wana Rousseff (PT-RS). Mas para essas NOTAS, uma pergunta não quer calar: por que deveria desagradar, se aquele tipo de contato fosse absolutamente normal e não configurasse uma indisfarçável pressão política?
MANTEGA negou um fato evidente, ao desmentir a interferência na decisão sobre o afastamento de Agnelli. Mas foi absolutamente sincero ao expor sua opinião sobre os direitos do governo de interferir na gestão de uma empresa privada. Mantega recordou os motivos - bem conhecidos há muito tempo - da insatisfação do ex-presidente da República, Luiz Inácio da Silva em relação ao agora ex-presidente da Vale S/A. No pior momento da crise econômica internacional, no final de 2008, a companhia anunciou a demissão de 1.200 funcionários - um número pequeno, seja em comparação com seu quadro de empregados, seja em confronto com as dispensas ocorridas em outras empresas, no Brasil e no exterior. O então presidente Luiz Inácio da Silva pressionou publicamente não só a diretoria da Vale S/A, mas também a da Embraer S/A, por causa dos cortes de pessoal na primeira fase da recessão da economia internacional. Não teve sucesso, mas tentou intervir e exorbitou de seu papel ao criticar executivos por tomarem uma decisão legal e perfeitamente normal naquela circunstância. "Não vejo situação mais democrática do que essa", disse Mantega, referindo-se à ação do então presidente da República. É uma concepção muito particular de democracia, já que Luiz Inácio da Silva agiu de forma nitidamente autoritária, tentando interferir na direção de duas das maiores empresas privadas do Brasil. Mantega parece haver esquecido, além disso, as bem conhecidas tentativas de derrubar Agnelli da presidência da Vale S/A, também noticiadas prontamente pela Imprensa.
LUIZ Inácio da Silva censurou a Vale S/A também por exportar minério à China em vez de aço, um produto com maior valor agregado. Mas o investimento industrial necessário para isso estava fora dos planos imediatos da empresa. Também isso foi tratado como afronta. A Vale S/A, segundo Mantega, deveria atender ao "interesse nacional". Em outras palavras, o governo tentou, sim, interferir na orientação da empresa. Nem é preciso, aqui, sublinhar a espantosa ingenuidade econômica revelada pelo então presidente da República e por seu ministro de Estado da Fazenda, ao cobrarem da diretoria da Vale S/A, no meio da crise econômica internacional, um investimento num setor com grande capacidade ociosa.
MANTEGA talvez tenha sido mais transparente do que pretendia, ao mencionar a retaliação não executada pelo governo. Se o governo poderia ter retaliado, essa retaliação deveria corresponder a um direito - pelo menos na sua concepção. Essa ideia pode causar estranheza a quem não conheça a "ideologia petista". Mas é perfeitamente compatível com os padrões seguidos pela administração petista. Afinal, a retaliação não é mais que a contrapartida - com sinal trocado - dos favores distribuídos por esse mesmo governo, por meio dos bancos federais, a empresas selecionadas segundo o arbítrio de quem maneja o dinheiro. Não é isso igualmente democrático, segundo o critério de Mantega?
MAS a interferência foi evidente e ocorreu não só quando Luiz Inácio da Silva pressionou a diretoria da Vale S/A, mas também quando o ministro Mantega convidou o presidente do Conselho de Administração do Bradesco S/A, Lázaro Brandão, para discutir a sucessão de Agnelli. O Bradesco integra o bloco de controle do capital social da Vale S/A e a mudança na direção da mineradora brasileira dependeria de sua concordância. Depois dos encontros de Mantega com Brandão, uma fonte do Bradesco ouvida pela nossa reportagem revelou ter havido uma pressão massacrante. Essa informação foi divulgada na ocasião. A Imprensa noticiou também a primeira reunião de Mantega com Brandão.
TAL indiscrição de Mantega, segundo fonte do governo ouvida pela nossa reportagem ontem, desagradou à presidente da República, Dilma Wana Rousseff (PT-RS). Mas para essas NOTAS, uma pergunta não quer calar: por que deveria desagradar, se aquele tipo de contato fosse absolutamente normal e não configurasse uma indisfarçável pressão política?
MANTEGA negou um fato evidente, ao desmentir a interferência na decisão sobre o afastamento de Agnelli. Mas foi absolutamente sincero ao expor sua opinião sobre os direitos do governo de interferir na gestão de uma empresa privada. Mantega recordou os motivos - bem conhecidos há muito tempo - da insatisfação do ex-presidente da República, Luiz Inácio da Silva em relação ao agora ex-presidente da Vale S/A. No pior momento da crise econômica internacional, no final de 2008, a companhia anunciou a demissão de 1.200 funcionários - um número pequeno, seja em comparação com seu quadro de empregados, seja em confronto com as dispensas ocorridas em outras empresas, no Brasil e no exterior. O então presidente Luiz Inácio da Silva pressionou publicamente não só a diretoria da Vale S/A, mas também a da Embraer S/A, por causa dos cortes de pessoal na primeira fase da recessão da economia internacional. Não teve sucesso, mas tentou intervir e exorbitou de seu papel ao criticar executivos por tomarem uma decisão legal e perfeitamente normal naquela circunstância. "Não vejo situação mais democrática do que essa", disse Mantega, referindo-se à ação do então presidente da República. É uma concepção muito particular de democracia, já que Luiz Inácio da Silva agiu de forma nitidamente autoritária, tentando interferir na direção de duas das maiores empresas privadas do Brasil. Mantega parece haver esquecido, além disso, as bem conhecidas tentativas de derrubar Agnelli da presidência da Vale S/A, também noticiadas prontamente pela Imprensa.
LUIZ Inácio da Silva censurou a Vale S/A também por exportar minério à China em vez de aço, um produto com maior valor agregado. Mas o investimento industrial necessário para isso estava fora dos planos imediatos da empresa. Também isso foi tratado como afronta. A Vale S/A, segundo Mantega, deveria atender ao "interesse nacional". Em outras palavras, o governo tentou, sim, interferir na orientação da empresa. Nem é preciso, aqui, sublinhar a espantosa ingenuidade econômica revelada pelo então presidente da República e por seu ministro de Estado da Fazenda, ao cobrarem da diretoria da Vale S/A, no meio da crise econômica internacional, um investimento num setor com grande capacidade ociosa.
MANTEGA talvez tenha sido mais transparente do que pretendia, ao mencionar a retaliação não executada pelo governo. Se o governo poderia ter retaliado, essa retaliação deveria corresponder a um direito - pelo menos na sua concepção. Essa ideia pode causar estranheza a quem não conheça a "ideologia petista". Mas é perfeitamente compatível com os padrões seguidos pela administração petista. Afinal, a retaliação não é mais que a contrapartida - com sinal trocado - dos favores distribuídos por esse mesmo governo, por meio dos bancos federais, a empresas selecionadas segundo o arbítrio de quem maneja o dinheiro. Não é isso igualmente democrático, segundo o critério de Mantega?
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