Sem o direito de errar
SALVADOR (BA) - EMBORA o cenário econômico mundial tenha melhorado, as ameaças à recuperação das economias desenvolvidas - como o desequilíbrio fiscal dos Estados Unidos da América (EUA), a crise de alguns países da Europa, o desemprego crescente, a alta dos preços dos alimentos, entre outros problemas - continuam a preocupar governantes, economistas e dirigentes de algumas das principais corporações empresariais do mundo que anualmente comparecem ao Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, para discutir os grandes problemas do mundo. Mas nem tudo parece sombrio. Na reunião deste ano, ocorrida na última semana de Janeiro, uma região que, em encontros anteriores, foi com frequência apontada como exemplo do que os governos não devem fazer tornou-se foco das atenções, pois dela emergem políticas e resultados que podem inspirar outros países. Trata-se da América Latina (AL).
HÁ POUCO mais de uma década, a AL era invariavelmente lembrada em reuniões internacionais, como esta de Davos, por seus problemas. A crise da dívida externa, os desmandos administrativos que resultavam em sérios desequilíbrios fiscais e em uma inflação descontrolada, os regimes autoritários e a incapacidade dos governos de colocar em prática políticas e projetos que assegurassem, simultaneamente, a estabilidade e o crescimento econômico, com a preservação das liberdades políticas, eram algumas das marcas da região nessa época.
AGORA em 2011, surpreendentemente, na sessão do Fórum de Davos em que o tema principal foi a América Latina a sala estava lotada por um público interessado não nos problemas, mas no desempenho da economia regional e, sobretudo, nas oportunidades geradas pelo novo ambiente para negócios nos países latino-americanos - dos quais o Brasil tem sido o mais citado. "Antes vínhamos aqui para dar explicações sobre problemas", resumiu o economista e sociólogo uruguaio, Enrique Iglesias, encarregado da Secretaria-Geral Ibero-Americana, na Espanha, e que comandou a Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), por 16 anos, e o Banco Interamericano de Desenvolvimento, por outros 16. "Mudamos. Hoje temos mais democracia, menos missões do Fundo Monetário Internacional (FMI) e menos moratória".
DURANTE uma exposição sobre a economia da região latino-americana, o venezuelano Moisés Naim, editor da revista Foreign Policy, referiu-se em particular ao desempenho econômico recente do Brasil, que, na sua opinião, alcançou um resultado extraordinário, um crescimento econômico rápido combinado com a redução das desigualdades de renda. Reconheceu que persistem grandes diferenças entre a renda do trabalho e os ganhos de capital, mas insistiu que, pelo coeficiente de Gini, o índice que mede a distribuição de renda num país, as desigualdades foram reduzidas nos últimos anos.
NO entanto, nem tudo o que ocorreu nos últimos anos e ainda ocorre em alguns países merece comemoração. Sobre o Brasil, o venezuelano Ricardo Haussmann, da Universidade Harvard, disse estar preocupado com "a política fiscal muito relaxada, o que leva a uma política monetária excessivamente dura".
O CEO para a América Latina do Banco Itaú Unibanco, Ricardo Villela Marinho, de sua parte, observou que, apesar da redução das desigualdades de renda, o Brasil ainda precisa eliminar graves deficiências na área de educação, na infraestrutura e nos gastos públicos, cuja qualidade é ruim.
ALGUNS países insistem em caminhar na direção contrária, como lembrou Naim, a respeito das políticas seguidas pelo governo de seu país, chefiado pelo coronel-paraquedista Hugo Chávez, que combinam nacionalismo, populismo, assistencialismo e incompetência. O socialismo chavista foi definido por Naim como uma "ideologia necrófila". "Nunca vi gostar tanto de ideias más e mortas", disse. O resultado das políticas de Chávez são a aceleração da inflação, o desemprego em ascensão e o aumento da pobreza.
FELIZMENTE, segundo Naim, apenas 10% dos latino-americanos deixaram de aprender as lições das crises dos anos 1990. As políticas praticadas por esses 10% e, sobretudo, seus resultados, confirmam a importância da lição: a América Latina não pode repetir os erros que cometeu com frequência no passado recente.
HÁ POUCO mais de uma década, a AL era invariavelmente lembrada em reuniões internacionais, como esta de Davos, por seus problemas. A crise da dívida externa, os desmandos administrativos que resultavam em sérios desequilíbrios fiscais e em uma inflação descontrolada, os regimes autoritários e a incapacidade dos governos de colocar em prática políticas e projetos que assegurassem, simultaneamente, a estabilidade e o crescimento econômico, com a preservação das liberdades políticas, eram algumas das marcas da região nessa época.
AGORA em 2011, surpreendentemente, na sessão do Fórum de Davos em que o tema principal foi a América Latina a sala estava lotada por um público interessado não nos problemas, mas no desempenho da economia regional e, sobretudo, nas oportunidades geradas pelo novo ambiente para negócios nos países latino-americanos - dos quais o Brasil tem sido o mais citado. "Antes vínhamos aqui para dar explicações sobre problemas", resumiu o economista e sociólogo uruguaio, Enrique Iglesias, encarregado da Secretaria-Geral Ibero-Americana, na Espanha, e que comandou a Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), por 16 anos, e o Banco Interamericano de Desenvolvimento, por outros 16. "Mudamos. Hoje temos mais democracia, menos missões do Fundo Monetário Internacional (FMI) e menos moratória".
DURANTE uma exposição sobre a economia da região latino-americana, o venezuelano Moisés Naim, editor da revista Foreign Policy, referiu-se em particular ao desempenho econômico recente do Brasil, que, na sua opinião, alcançou um resultado extraordinário, um crescimento econômico rápido combinado com a redução das desigualdades de renda. Reconheceu que persistem grandes diferenças entre a renda do trabalho e os ganhos de capital, mas insistiu que, pelo coeficiente de Gini, o índice que mede a distribuição de renda num país, as desigualdades foram reduzidas nos últimos anos.
NO entanto, nem tudo o que ocorreu nos últimos anos e ainda ocorre em alguns países merece comemoração. Sobre o Brasil, o venezuelano Ricardo Haussmann, da Universidade Harvard, disse estar preocupado com "a política fiscal muito relaxada, o que leva a uma política monetária excessivamente dura".
O CEO para a América Latina do Banco Itaú Unibanco, Ricardo Villela Marinho, de sua parte, observou que, apesar da redução das desigualdades de renda, o Brasil ainda precisa eliminar graves deficiências na área de educação, na infraestrutura e nos gastos públicos, cuja qualidade é ruim.
ALGUNS países insistem em caminhar na direção contrária, como lembrou Naim, a respeito das políticas seguidas pelo governo de seu país, chefiado pelo coronel-paraquedista Hugo Chávez, que combinam nacionalismo, populismo, assistencialismo e incompetência. O socialismo chavista foi definido por Naim como uma "ideologia necrófila". "Nunca vi gostar tanto de ideias más e mortas", disse. O resultado das políticas de Chávez são a aceleração da inflação, o desemprego em ascensão e o aumento da pobreza.
FELIZMENTE, segundo Naim, apenas 10% dos latino-americanos deixaram de aprender as lições das crises dos anos 1990. As políticas praticadas por esses 10% e, sobretudo, seus resultados, confirmam a importância da lição: a América Latina não pode repetir os erros que cometeu com frequência no passado recente.
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