Ligações perigosas
WLADMIR ÁLVARO PINHEIRO JARDIM
RIO DE JANEIRO
Quebrar o sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, de maneira clandestina, pode. Quebrar o sigilo bancário do presidente do Sebrae Paulo Okamotto, dileto companheiro do vosso presidente-candidato da República Luiz Inácio da Silva (PT-SP), a pedido da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apura as irregularidades nos contratos da Caixa Econômica Federal (CEF) e as empresas e empresários de jogos, não pode? Tratar de assuntos pessoais do ainda ministro de Estado da Fazenda Antonio Palocci Filho não pode. Mexer na vida privada do simples e honesto que trabalhou numa casa do Lago (utilizada para encontros e orgias promovidos pelos lobistas da vulga “república de Ribeirão Preto”), pode?
WLADMIR ÁLVARO PINHEIRO JARDIM
RIO DE JANEIRO
Quebrar o sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, de maneira clandestina, pode. Quebrar o sigilo bancário do presidente do Sebrae Paulo Okamotto, dileto companheiro do vosso presidente-candidato da República Luiz Inácio da Silva (PT-SP), a pedido da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apura as irregularidades nos contratos da Caixa Econômica Federal (CEF) e as empresas e empresários de jogos, não pode? Tratar de assuntos pessoais do ainda ministro de Estado da Fazenda Antonio Palocci Filho não pode. Mexer na vida privada do simples e honesto que trabalhou numa casa do Lago (utilizada para encontros e orgias promovidos pelos lobistas da vulga “república de Ribeirão Preto”), pode?
Mais uma vez revela-se o caráter autoritário do petismo (essa doença que solapa a vida nacional, no governo Luiz Inácio da Silva) no episódio da quebra ilegal do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, e ficamos todos indignados e impotentes diante de tamanha afronta aos direitos individuais, praticado no mínimo com a conivência do Departamento de Polícia Federal (DPF), onde o caseiro estava prestando depoimento, como investigado, na hora em que o extrato foi tirado, e da diretoria da CEF, única fonte para a obtenção da senha, já que o próprio titular da conta não a forneceu.
Seria a inaceitável instalação de um estado policial, que já havia sido vislumbrado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) quando entrou em uma batalha contra o Ministério da Justiça contra a atuação dos agentes do DPF nos escritórios de advocacia em vários pontos deste País, a pretexto do combate à corrupção.
Escutas telefônicas, conseguidas através de subterfúgios, eram a ponta do iceberg de um processo investigativo tão popular quanto duvidoso. O ministro de Estado da Justiça Márcio Thomaz Bastos, precisa fazer mais do que simplesmente lamentar o que aconteceu. Precisa mostrar claramente que o governo Luiz Inácio da Silva (2003-6) não compactua com esse tipo de procedimento, pois até o momento a sensação é de que um fato desses só ocorre quando o agente do estado, se não recebeu orientações nesse sentido, tem certeza da impunidade.
A informação de que o extrato do caseiro Francenildo Costa já circulava entre políticos e autoridades petistas antes de ser publicado pela Revista ÉPOCA reforça a idéia de que se tratava de uma estratégia oficial para desmoralizar o testemunho contra o ministro Palocci. Testemunho, por sinal, que só tem relevância por indicar que o ministro freqüentava a casa onde lobistas amigos de longa data faziam negócios, o que sugere que o faziam com o seu beneplácito, o que agora é preciso se investigar. E não por outras utilizações que eventualmente tivesse o “aparelho”.
O projeto de reeleição do presidente-candidato Luiz Inácio da Silva, que no início do governo parecia favas contadas, sofreu considerável contratempo com o resultado da eleição municipal de 2004, de cujas urnas o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) saiu com uma vitória política expressiva, em que pese o Partido dos Trabalhadores (PT_ ter ampliado sua penetração no Interior do País. Na ocasião, o presidente do partido José Genoino (PT-SP) identificou como razão principal da derrota petista o que classificou de “uma bem sucedida campanha da Oposição” para instalar no País um clima antipetista, cuja base seria um autoritarismo do partido, que ele negava.
O autoritarismo do PT, outra doença do petismo, não se expressava apenas nas alianças políticas literalmente compradas, como depois ficou provado com as denúncias sobre o mensalão e a descoberta do delubiovalerioduto, mas em tentativas de controlar a Imprensa e as produções culturais, com a criação de conselhos estatais, e em declarações de ministros de Estado que deixariam à mostra uma face política radical que estaria apenas aguardando um bom momento para se manifestar mais claramente.
Nunca é demais lembrar que ex-presidente do partido Tarso Genro (PT-RS), por exemplo, cogitado para coordenar a campanha de reeleição do presidente-candidato Luiz Inácio da Silva, defende no seu livro “A Esquerda em progresso”, a democracia direta à la Hugo Chávez (na Venezuela), com a “exacerbação da consulta, do referendo, do plebiscito e de outras formas de participação”, e o controle dos meios de comunicação através de “conselhos de Estado”.
A cada explicitação desse caráter autoritário, desfaz-se a imagem do “Lulinha Paz e Amor”, criação imortal do marqueteiro e cliente preferencial do delubiovalerioduto, Duda Mendonça, e aumenta o temor do que seria o “verdadeiro PT” num eventual segundo mandato presidencial de Luiz Inácio da Silva (2007-10). A classe média, que abandonara o presidente-candidato num primeiro momento, voltou a flertar com ele a partir dos bons resultados da economia brasileira.
Mas, se é verdade que a maior parte das decisões de voto é motivada por valores, é previsível que, diante de novas manifestações de autoritarismo do governo petista, e com a opção do peessedebista Geraldo Alckmin (PSDB-SP) agora colocada à sua disposição, a classe média reflua de uma posição quase oportunista devido ao dólar barato, que lhe permite usufruir viagens internacionais e importados (a popular Bolsa-Miami), e volte a emitir sinais de que teme esse DNA petista.
Assim como, para chegar ao poder, Luiz Inácio da Silva teve que ampliar suas alianças a ponto de buscar apoios nas oligarquias nordestinas do PFL e do PMDB, e agora evolui com desembaraço para o populismo mais escrachado, terá que deixar de lado antigas alianças com movimentos sociais como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), ou com a esquerda socialista, para governar com setores mais amplos da sociedade.
Se não o fizer, correrá o risco de ver-se rejeitado pelo mesmo eleitorado que o fez pela primeira vez superar os 30% de votos em que se situava historicamente. Antigos temores da classe média com relação ao governo petista voltam à tona com as invasões de terras que o MST retomou. A falta de ação do governo para coibir esse “verão vermelho” é sinal de que a cumplicidade com os trabalhadores sem-terra não dá espaço para o uso da lei.
A rejeição da classe média ao governo se deve também à ineficácia da administração, e já se manifesta novamente nas pesquisas de opinião e intenção de voto, que voltam a registrar o declínio da aprovação ao governo e à maneira do presidente-candidato Luiz Inácio da Silva governar. Há também a repulsa à utilização da máquina administrativa, à “peterização” das repartições públicas, que ficou patente agora nesse episódio do caseiro Francenildo Costa.
Todos esses fatos levaram a um declínio da popularidade do vosso presidente-candidato Luiz Inácio da Silva, do qual ele se recuperou no que já está sendo chamado de “descanso do verão”. A retomada da ofensiva oposicionista, e o surgimento de novos fatos envolvendo o governo, abrem perspectivas novas na corrida eleitoral.
Mesmo assim, até o momento o desfecho da campanha eleitoral parece depender mais de Luiz Inácio da Silva que de Geraldo Alckmin. O candidato do PSDB não é daqueles que arrasam quarteirão (como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso que foi eleito majoritariamente no primeiro turno em 1994 e 1998), mas pode ser uma alternativa se Luiz Inácio da Silva voltar a perder a confiança do eleitorado.
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